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Retratos da Miséria
Diante do isolamento social imposto pela pandemia de Covid-19, muitas pessoas com trabalhos informais ficaram sem condições de conseguir o seu próprio sustento e começaram a passar fome. Além disso, itens de higiene e limpeza eram essenciais para se conter a disseminação do coronavírus, mas como famílias que mal tinham dinheiro para comer iriam comprar sabão, shampoo, detergente, álcool gel…? Assim, o Movimento União Rio lançou a campanha RioContraCorona, gerida pelo Instituto Phi, Banco da Providência e Instituto Ekloos. Com as doações em dinheiro da população, desde o dia 24 de março até o momento (15 de julho), mais de 240 mil famílias de 237 comunidades cariocas vêm recebendo alimentos e produtos de higiene e limpeza. Aqui, você conhece as histórias de algumas beneficiárias desta ação.
Cinthia, da Favela Gogó da Ema

Existe uma Uganda aqui no Brasil. Metade da população brasileira, quase 104 milhões de pessoas, vive com no máximo R$ 413 por mês, com 13,5 milhões de miseráveis que vivem com até R$ 145 mensais.
As Ugandas cariocas estão em muitos lugares. No Gogó da Ema, no bairro de Guadalupe. Na Pedra do Sapo, no Complexo do Alemão. Ou numa área que de tão maltratada é conhecida como “Fim do mundo”, no bairro de Costa Barros. Está em muitas comunidades que estão à sombra do poder público há décadas.
Chintia Rodrigues mora na Favela Gogó da Ema. Ela foi uma das beneficiadas com a cesta básica e o kit de material de limpeza e higiene da campanha RioContraCorona, do Movimento União Rio. A faxineira de 35 anos (na foto, com a cesta na mão, ao lado da filha) mora num barraco de madeira com o marido Júnior e cinco filhos, de 1 a 15 anos. A mais velha, de 16, saiu de casa e está esperando o primeiro neto de Chintia.
A renda mensal da família é de R$ 300, das faxinas que Chintia faz num prédio. O marido, desempregado, antes da pandemia de Covid-19 fazia bicos tirando entulho de obras com sua charrete. Agora, as obras pararam.
“É muita boca pra comer, a gente já estava sem nada”, disse Chintia, que ia preparar o macarrão que veio na cesta para o jantar.
A pandemia de Covid-19 acabou nos colocando de frente para o pai e mãe desempregados, para a criança sem comida e sem escola, para o idoso sem um teto pra morar. Chegou a hora de voltarmos os olhos para a nossa gente. Se você quer fazer parte dessa corrente de solidariedade, faça sua doação.
Kelly, de Campo Grande

Em Comari, sub-bairro de Campo Grande, Kelly Cristina e sua família dependiam das doações de roupas usadas da vizinhança para vender no brechó que montaram na porta de casa e obter alguma renda para pagar contas e comprar comida. Mas com o isolamento social imposto pela pandemia de Covid-19, ela não recebe mais doações e ninguém aparece para comprar. E a fome, mal milenar, assombra.
Kelly, de 31 anos, mora com o marido, dois filhos, de 6 e 13 anos, e uma enteada, de 15. Antes da pandemia, as crianças eram atendidas por uma organização social local, o NEAC – Núcleo Especial de Atenção à Criança, onde participavam de programas de educação e artes. Lá, Kelly recebeu o cartão pré-pago carregado com R$ 200 da campanha RioContraCorona, do Movimento União Rio, e comprou comida para a família.
“Tenho sentido muita tristeza por conta de toda essa dificuldade que estamos passando, já teve dia de não ter nada o que comer. Mas sou muito grata ao NEAC e às organizações que levam doações para o Neac, sem eles não sei como poderíamos sobreviver”, diz ela.
Dona Arlete, do Morro da Quitanda

Na casa com piso de cimento e paredes sem emboço numa viela do Morro da Quitanda, em Costa Barros, Dona Arlete Paula de Oliveira, 59 anos, mora com sete familiares: dois de seus quatro filhos, uma nora, quatro netos. “E Deus”, ela diz.
Antes da pandemia de Covid-19, a miséria já espreitava a família. A única renda fixa é o benefício de prestação continuada de um salário mínimo mensal que um dos filhos de dona Arlete recebe, por incapacidade permanente – há anos, ele foi diagnosticado com o mal de Alzheimer. O outro filho, às vezes, conseguia um bico. Agora, não mais.
“Costumamos comer só arroz e feijão. Quando não tem nem isso, comemos mingau de fubá”, conta Dona Arlete, acrescentando que a preocupação maior é quando falta leite para a neta caçula, de dois anos.
Ela recebeu a cesta básica e os produtos de higiene e limpeza da campanha RioContraCorona, do Movimento União Rio, através da ONG Recriando Raízes, que atua na região.
María, de Guaratiba

A definição clássica de refugiado é “o imigrante que sofre de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, política ou grupo social “. No entanto, a Acnur, agência da ONU para refugiados, já incorpora as características de uma crise humanitária: fome, ausência de serviços básicos e perda de renda – interpretação que abarca, por exemplo, a população que foge da Venezuela por conta da crise generalizada no país. Caso da família de Maria Alejandra Escobar, que há dois anos veio para o Brasil, viveu um ano em Roraima e então mudou-se para o Rio.
María vive com o marido e oito filhos pequenos num casa alugada em Guaratiba, bairro que tem o 118º pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da lista de 126 bairros do município. O casal vivia na Venezuela da venda de legumes, frutas e verduras, mas com a crise política e econômica, perdeu tudo. Eles foram para Roraima, mas também lá acabaram morando na rua e tirando sobras de comida do lixo para comer. Conseguiram vir para o Rio e, desde março, com a ajuda da Mawon – ONG que promove a integração de imigrantes em vulnerabilidade no Brasil, através da educação, da cultura e da geração de renda – o marido de María trabalha num supermercado, com salário líquido de R$ 1.110.
“Mas pagamos aluguel de R$ 600, luz e gás, então não sobra muito para comprar comida, fraldas e leite. Cinco crianças estavam na escola e se alimentavam lá, mas agora estão em casa e não conseguimos o auxílio emergencial do governo”, conta.
Ainda assim, María considera a situação da família melhor que quando viviam na Venezuela:
“Eu amava meu país, que é lindo, mas há problemas de abastecimento de alimentos e a população está desesperada. Aqui, há pessoas muito boas que nos ajudam, como vocês, com essas cestas básicas”.
Dona Cláudia, de Santa Cruz

Há oito anos, Cláudia Aparecida da Silva, de 54 anos, teve o terceiro AVC, que a deixou com sequelas – ela precisa da ajuda de uma muleta para andar. Mas, como até hoje não conseguiu nenhum benefício do governo, não deixou de trabalhar como catadora de lixo reciclável para se sustentar. Até a pandemia de Covid-19.
“Trabalhava por conta própria, catando lixo nas ruas e vendendo para cooperativas. Tirava R$ 500, R$ 600 por mês. Agora, com o isolamento, estou sem renda”, conta Dona Cláudia, que é analfabeta.
Mãe de três filhos já adultos, um deles desaparecido, a catadora mora sozinha numa casa de um cômodo na comunidade de São Fernando, em Santa Cruz. O barraco, com chão de terra batida e paredes sem emboço, tem goteiras quando chove e um vaso sanitário numa área que nem telhado tem. Ela espera por doações de material de construção para terminar a casa.
“Minha filha às vezes ajuda, mas ela também é catadora de lixo e está sem renda. O pessoal da (ONG) Fios da Terra é quem tem me ajudado com as cestas básicas da campanha do Movimento União Rio”.
Sobre a crise e as dificuldades econômicas, ela diz que “confia em Deus que vai ficar tudo bem”:
“Já sobrevivi a tanta coisa, estive numa UTI três vezes. Não vai ser isso que vai me derrubar”.
Carla, da Chatuba

Num quarto de uma casa de cômodos, no bairro da Chatuba, município de Mesquita, Carla Cristina Martins mora com o marido Jefferson Martins e suas quatro filhas, com idades entre 3 e 12 anos. O banheiro é compartilhado com os ocupantes dos outros oito quartos da habitação coletiva. Jefferson sustenta a família trabalhando como coletor de lixo – ele recebe um salário mínimo (R$ 1.045).
Antes da pandemia de Covid-19, Carla acordava quando o sol nascia para arrumar as quatro meninas – as duas mais velhas iam para a escola pela manhã e, à tarde, para o Instituto Mundo Novo, uma instituição sem fins lucrativos que oferece projetos educacionais, culturais e profissionalizantes para crianças e jovens da região. Já as duas mais novas iam para a ONG pela manhã, onde frequentavam a creche, e passavam a tarde em casa com a mãe.
“Agora, com as quatro crianças em casa o dia inteiro, os gastos com alimentação aumentaram. Graças a Deus contamos com o Mundo Novo, que nos ajuda com doações, como as cestas básicas, e ainda passa atividades para as meninas fazerem em casa”.
Carla é uma das beneficiárias da campanha RioContraCorona, do Movimento União Rio.
Angélica, de Manguinhos

Ana Cristina, de 7 meses, tinha uma irmã gêmea, Ana Clara. Mas as bebês nasceram prematuras e, com um mês, Ana Clara acabou morrendo. Ana Cristina é a caçula de Angélica Gomes, que mora em Manguinhos, numa casa de apenas um cômodo com cinco filhos, que cria sozinha. Ela tem seis, mas o mais velho, de 13, mora com a irmã.
O pai das crianças maiores foi assassinado e o segundo companheiro, pai das bebês, foi embora. Desde que perdeu o emprego de ajudante de cozinha num restaurante, há quatro anos, Angélica não conseguiu mais emprego. Sustenta a família com o Bolsa Família (R$ 291), mais uma pensão de R$ 218 que recebe pelo filho mais velho, o único que foi registrado pelo pai – ele teve filhos com outras mulheres e o valor é dividido entre eles.
Para compor a renda, Angélica costuma catar latinhas para vender para a reciclagem, mas diz que com a pandemia de Covid-19, até isso ficou mais difícil. Além disso, as crianças estão em casa e a demanda por alimentos aumentou. Através da ONG local Origem Amorim, Angélica ganhou duas cestas básicas da campanha RioContraCorona, promovida pelo Movimento União Rio.
“Não consegui o cartão alimentação nem cesta básica pela escola. A bebê tem anemia falciforme, só pode tomar o leite Nan, que é caro. Graças a Deus, há pessoas boas no nosso caminho, como o pessoal da Origem Amorim, que trouxe as cestas básicas, além de fraldas, leite e lenço umedecido, e a dona de uma pensão próxima, que às vezes traz comida para minhas crianças”.
Jaqueline, do Final Feliz

Na comunidade com o sugestivo nome de Final Feliz, no Complexo do Chapadão, Jaqueline Lindozo Silva, de 37 anos, tenta sobreviver. Ela e o marido, Marcos, estão desempregados e vivem de bicos – ela cata recicláveis e ele faz umas capinas. E era assim que sustentavam a filha Yasmin, de 13 anos. Com a pandemia, o pouco virou quase nada.
Jaqueline tem o Bolsa-Família, mas o benefício está bloqueado: seu outro filho, Wendel, de 14, que mora com a avó materna no Morro da Pedreira (próximo ao Chapadão, mas dominado por uma facção rival), parou de frequentar a escola no ano passado sem que ela soubesse. Este ano, Jaqueline descobriu e tentou matricular o menino, mas não conseguiu vaga.
Ela tem ainda outra filha, Luana, de 21 anos, que também mora com a avó. A moça é bombeira e estudante de Direito, para orgulho da família, mas o salário vai todo para pagar a faculdade.
A pandemia de Covid-19 preocupa Jaqueline, que é diabética, mas ela fica aflita principalmente por causa da filha Yasmin, que tem bronquite asmática.
Há três anos, o barraco onde a família morava pegou fogo. Com a ajuda da comunidade, eles conseguiram um outro barraco para morar, mas não tem banheiro e eles têm de usar o quintal mesmo.
“Perdemos tudo. Sou muito grata ao pessoal do Museu do Graffitti, que ajudou a tirar meus documentos, me ajudou com doações e agora me deu as cestas básicas dessa campanha RioContraCorona, do Movimento União Rio”.
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Boletim Phi: Cultura de doação para além da crise

Confrontada com a pandemia global, a filantropia individual e institucional foi receptiva, engajada e ágil. Passado esse momento mais crítico, a atração em direção às antigas práticas será forte, especialmente à medida que os filantropos poderão enfrentar o impacto de uma desaceleração econômica em seus próprios negócios. O desafio – e a oportunidade – para o Terceiro Setor será fazer com que esses recursos permaneçam, criando novas oportunidades de parceria entre público, privado e organizações da sociedade civil para resolver outros (muitos) problemas. Esse é o tema da despedida da nossa edição semanal do Boletim Phi – Especial Coronavírus, que agora passa a circular mensalmente.
Duration: Phi Bulletin, coronavírus, cultura de doação, filantropia, terceiro setor.
Boletim Phi: Malabarismos para sobreviver

O que tem alimentado a sua alma durante a quarentena? Música? Filmes? Balé? Literatura? Se as grandes produções foram seriamente ameaçadas pela pandemia do coronavírus, os artistas independentes e os profissionais dos bastidores, simplesmente, ficaram sem palco. Para garantir a sobrevivência dos artistas à quarentena, projetos são articulados, e toda solidariedade é bem-vinda. Confira essa e outras histórias que trazemos para enriquecer o debate sobre a crise na nova edição do Boletim Phi.
Duration: Phi Bulletin, coronavírus, cultura, doação, filantropia, pandemia, quarentena, solidariedade, vulnerabilidade social.
‘Quando a gente não atrapalha, a natureza responde rápido’
Confira a entrevista do jornalista André Trigueiro ao Boletim Phi

Já há consenso de que a pandemia de Covid-19 também é fruto da degradação ambiental – habitats violados podem incentivar processos evolutivos de doenças zoonóticas. Ironicamente, à medida que o coronavírus se espalha em todo o mundo, ameaçando vidas e a economia mundial, um efeito colateral tem sido a diminuição das emissões de gases de efeito estufa. Nas redes sociais, se propagam fotos de animais selvagens aparecendo em áreas urbanas e do céu estrelado como nunca antes visto. “Quando a gente não atrapalha, a natureza responde rápido”, diz o jornalista especializado em meio ambiente André Trigueiro, em entrevista ao Boletim Phi, destacando que, no entanto, o Brasil vai na contramão mundial e, com recordes de desmatamento, deve aumentar de 10% a 20% as emissões de gases. Também conversamos sobre os efeitos da Covid-19 para os povos indígenas da Amazônia e sobre a tendência de que os hábitos de consumo se tornem mais conscientes. Confira:
O quanto a natureza ganhou com o ‘mundo parado’?
No mundo, estudos indicam que haverá uma redução de 6% nas emissões de gases de efeito estufa, o que é um baita freio de arrumação. Infelizmente isso veio a partir de uma pandemia monumental, mas ajuda a cumprir o Acordo de Paris. Agora, o Brasil foi na contramão e deve fechar 2020 com um aumento de 10% a 20% das emissões por causa do desmatamento, gerando perplexidade e preocupação na comunidade internacional. Os efeitos desta quarentena no mundo foram as águas de Veneza ficando cristalinas, os animais silvestres aparecendo livres, leves e soltos em áreas urbanas, a possibilidade de quem mora em São Paulo enxergar estrelas por causa da redução da poluição… O recesso estabeleceu uma cessação de movimento de atividade econômica que nos permitiu ver com muita clareza que, se a gente não atrapalha, a natureza responde rápido. Isso é um sinal de esperança. Se isso vai determinar alguma mudança? Esperamos que sim. As novas gerações estão chegando com muita cultura e assertividade. São mais sensíveis ao desejo de não se alimentar de proteína animal, por exemplo. E aí você tem grandes frigoríficos mudando seu planejamento estratégico e começando a ofertar, por exemplo, hambúrguer vegetal. Isso é uma resposta a uma nova cultura alimentar que vem de baixo para cima e que quem não está precisando atenção nas mudanças precisa se adaptar para não sofrer estragos.
Qual a relação do desmatamento com o surgimento de doenças como a Covid-19? Devemos esperar por outras pandemias?
Existem indícios de que outras enfermidades do fim do século passado para cá teriam ocorrido a partir da expansão do desmatamento e o contato de pessoas com vírus que ocorriam endemicamente em animais silvestres dentro das florestas. Todo vírus é mutante, mas quando você estabelece um contato com a ingestão de animais que carregam esses vírus ou quando esses animais estabelecem contato com outros animais que a gente come ou domestica, há uma promiscuidade viral que pode determinar a aceleração da mudança da fisiologia do vírus. Existem evidências de que o vírus HIV, por exemplo, estaria circulando endemicamente na população de símios numa determinada região da África e o avanço do desmatamento e o contato dos humanos com os macacos determinou essa transposição do vírus para nós. Gripe suína, gripe aviária e, mais recentemente, o coronavírus, são outros exemplos. No caso do coronavírus, existiria, portanto, uma relação nossa com animais que habitam grotões encapsulados da floresta e a outra hipótese é que tenha sido nesses mercados de animais vivos, um ambiente que também favorece a mutação desses vírus. Conversei recentemente com um pesquisador da Universidade de Fortaleza, que está estudando esse tema, e ele está preocupado com a expansão do desmatamento no Brasil e com os eventuais microorganismos que estavam sossegados numa área que não havia contato conosco, mas que nós possivelmente estamos precipitando a expansão deles na nossa direção.
Com a chegada do coronavírus nas comunidades indígenas, qual cenário poderá se desenhar?
Historicamente, nunca prestamos muita atenção na importância de uma Funai forte, com orçamento, indigenistas, antropólogos e uma legislação que proteja os direitos dos povos originais. Com o desmonte das políticas ambientais e de proteção dos indígenas, o advento da pandemia e diante da vulnerabilidade extrema desses povos, criou-se uma conjuntura que é a tempestade perfeita. Os indígenas não têm a imunidade que temos nos centros urbanos. São muito mais vulneráveis, por exemplo, ao influenza, o vírus da gripe. Então, estamos testemunhando o risco de um etnocídio, porque certos agrupamentos são muito pequenos. Se uma cultura onde sobraram 50 indivíduos tem contato com o coronavírus, que é agressivo e letal, acabou, aquela cultura morre. Isso é muito grave. Há uma ilegalidade determinada pela ação de garimpeiros, grileiros, pecuaristas, madeireiros, em várias regiões do Brasil, especialmente no Norte. Essas invasões e os incidentes violentos aumentaram de um ano e meio para cá. Existem mais de 20 mil garimpeiros instalados ilegalmente dentro da Reserva Yanomami. Este ano não haverá o tradicional ritual do Quarup em algumas comunidades do Parque Nacional do Xingu, porque eles estão apavorados. Isso obviamente não repercute somente aqui dentro. Lá fora, a questão ambiental e indígena determina impactos econômicos devastadores para o Brasil, a começar pela não ratificação do Acordo Comercial entre Mercosul e União Europeia, o maior da história, por conta da cláusula ambiental que o Brasil não estaria respeitando. As grandes carteiras de investimentos do mundo estão cada vez mais seletivas e não querem aplicar o dinheiro em projetos ou países que não respeitam legislação ambiental ou direitos dos povos originais, simples assim.
Como você enxerga o mundo e as pessoas no pós-pandemia?
Minha presunção é que boa parte das pessoas que está passando por essa experiência sairá de alguma forma diferente. Pais que tiveram um contato que não tinham antes com os filhos, por exemplo. Isso marca a vida daquela comunidade familiar, há um impacto – que pode ser positivo ou negativo, também houve um aumento da violência doméstica. Mas penso que essa mudança na rotina trouxe a possibilidade de as pessoas refletirem sobre o que convém manter depois que a pandemia passar. Esse freio de arrumação nos traz oportunidade de fazer algo diferente, uma revisão de processos. Isso já aconteceu na gestão pública e no setor privado em vários lugares. Amsterdã está se reerguendo seguindo um modelo de desenvolvimento inspirado num livro de uma economista de Oxford chamado Economia Donut, um sistema mais sustentável e socialmente justo, em contraponto ao crescimento a qualquer custo. A prefeitura de Londres está adotando medidas para estimular o uso de bicicletas num retorno lento e gradual para a rotina, evitando aglomerações em transportes públicos e ao mesmo tempo incentivando um hábito mais saudável e sustentável. Há um novo mundo sendo gestado.
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Boletim Phi: Plantando o amanhã

Ninguém duvida de que o mundo pós pandemia será outro. Além da forte recessão e das vidas perdidas, uma coisa é certa: a busca por um planeta mais sustentável terá de deixar de ser discurso. Nesta edição do Boletim Phi, trazemos o assunto à pauta, com uma entrevista com o jornalista especializado em meio ambiente André Trigueiro e uma matéria sobre a Gringa, e-commerce de moda consciente de Fiorella Matheis. Clique aqui e confira!
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Boletim Phi: A distância que nos une

A articulação da sociedade civil nesta pandemia, reunindo ONGs, empresários e líderes comunitários, implementando ações em parcerias e mostrando sua potência na transformação social, nos fazem pensar: a filantropia brasileira sai fortalecida? É imperativo que continuemos juntos buscando saídas para a atual crise e para a redução de desigualdades. Esse é o debate urgente que propomos. Confira na nova edição do Phi Bulletin.
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Boletim Phi: Juntos, cuidando do outro

Uma das lições que a pandemia de coronavírus tem ensinado a todos os setores da economia no mundo é sobre a importância de unir forças para encarar desafios coletivos. No Instituto Phi, de mãos dadas com empresas e organizações das mais diversas áreas – da moda ao financeiro, passando pela educação – estamos otimizando esforços, potencializando ações, fortalecendo atores que se unem em torno de um interesse comum. Clique na nova edição do Phi Bulletin e confira!
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Boletim Phi: Filantropia fortalecida no contexto da crise

Estamos diante de uma nova realidade marcada por uma consciência coletiva de que empresas e indivíduos precisam ser um fator de soma para a transformação social. Mais do que nunca, precisamos olhar e apoiar campanhas para auxiliar as comunidades vulneráveis – com o avanço da pandemia, as desigualdades se aprofundam e a fome chega todos os dias. Na nova edição do Boletim Phi, reunimos as informações, inspirações e ferramentas que você precisa para começar a doar ou continuar doando. Clique aqui e confira!
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Boletim Phi: De vida em vida, salvamos a humanidade

Através de ações coletivas, articuladas em rede por pessoas e organizações comprometidas de longa data com a ampliação da cidadania dos grupos minorizados, vidas brasileiras estão sendo salvas. Conheça algumas dessas ações na nova edição do Phi Bulletin e saiba como você pode contribuir. Agir na emergência e construir um novo Brasil depende de todos nós.
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Phi lança boletim semanal

O que será preciso para atravessar esta crise, agora que nossas premissas tradicionais se tornaram irrelevantes? Se quisermos encontrar um caminho social e economicamente viável rumo ao próximo normal, nossa resposta é um chamado à filantropia. Nós, do Instituto Phi, convidamos vocês para acompanhar nossas ações no novo Phi Bulletin, que será publicado aqui semanalmente. Esta é a primeira edição e esperamos que vocês gostem. Boa leitura e estamos à disposição para conversar sobre o tema!
ONGs esperam ser incluídas em medidas de apoio dos governos
Por Luiz Gustavo, da Agência do Bem
Por conta da pandemia do novo coronavírus e das medidas de isolamento impostas pela quarentena a queda da atividade econômica impõe riscos concretos à capacidade de gerar renda e prover subsistência à milhões de famílias do país. Diante deste cenário, as organizações do Terceiro Setor, popularmente conhecidas como ONGs, estão articulando ações em redes de solidariedade, em milhares de comunidades Brasil afora, arrecadando e distribuindo toneladas de mantimentos e itens de primeira necessidade à população mais vulnerável.
Segundo o ‘Monitor das Doações da COVID 19’ mantido pela Associação Brasileira de Captadores de Recursos cerca de 1 bilhão de reais já foram arrecadados entre empresas e pessoas físicas para combater os impactos da pandemia nas comunidades de baixa renda e para ajudar o sistema de saúde.
Estes números impressionantes, contudo, escondem um perigo: todo este afluxo de doações tem como destino a população e suas urgentes necessidades, mas como ficarão estas organizações de apoio com a queda de arrecadação que já está sendo sentida pelos seus gestores?
A organização carioca Agência do Bem, articuladora da Rede de Organizações do Bem, iniciativa presente nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e de São Paulo, contando com a participação de 800 ONGs, realizou a pesquisa “Impacto do Coronavírus no Terceiro Setor”, entre os dias 3 e 7 de abril, com 231 diretores dessas entidades. O levantamento revelou um quadro alarmante: 67% tiveram queda de arrecadação de suas receitas acima de cinquenta por cento após o início da pandemia, e 83% preveem riscos concretos de fecharem suas portas no curto prazo ou terem de reduzir substancialmente suas atividades caso a situação atual não se reverta rapidamente.
_“Esse estudo aponta um risco real e afligente. Mais uma vez, são estas redes de solidariedade que estão fazendo a diferença lá na ponta diminuindo o sofrimento da população durante a pandemia, saciando a fome de milhões de pessoas. Muitas medidas estão sendo estudadas para socorrer empresas e profissionais autônomos, todas muito justas e necessárias. A contradição é que tais benefícios não incluem as ONGs que, além desse papel vital, empregam cerca de 3 milhões de pessoas no país. Isso precisa ser visto.” – declara Alan Maia, responsável pela pesquisa da Agência do Bem.
O levantamento identificou, ainda, o impacto imediato na rotina destas organizações. Segundo os respondentes, apenas 1% manteve suas atividades normais após o início da pandemia, enquanto 72% paralisaram completamente. Em relação ao contexto comunitário no qual atuam, 89% observam grave deterioração nas condições de subsistência das famílias atendidas, indicando necessidade de socorro imediato.
1.De imediato, quanto a pandemia impactou as rotinas e projetos institucionais?
72,7% Completamente. Interrompemos todas as atividades e atendimentos. Mantivemos apenas algumas rotinas administrativas.
26% Parcialmente. Alguns projetos seguem funcionando remotamente ou com adaptações.
1,3% Não houve impacto significativo. Seguimos trabalhando próximo da normalidade.

2. Ao longo das últimas semanas, você já identificou queda na arrecadação e na geração de receitas da instituição? Em qual percentual? Considere doações em geral, financeiras e não-financeiras.
15,6% Não. A arrecadação se manteve na média padrão.
2,6% Sim, na casa de 10% a menos.
5,2% Sim, na casa de 20% a menos.
6,9% Sim, na casa de 30% a menos.
2,6% Sim, na casa de 40% a menos.
5,6% Sim, na casa de 50% a menos.
3,0% Sim, na casa de 60% a menos.
10,4% Sim, na casa de 70% a menos.
9,1% Sim, na casa de 80% a menos.
12,1% Sim, na casa de 90% a menos.
26,8% Sim, não conseguimos arrecadar nada.
3. Em relação ao futuro de curto e médio prazos, para os próximos 6 a 12 meses, caso a situação atual permaneça você acredita que existam riscos reais de fechamento definitivo das atividades por falta de recursos e de apoio?
24,7% Sim. Vejo a possibilidade de encerrar definitivamente a instituição.
58,4% Em parte. Alguns projetos e atividades serão descontinuados, mas manteremos o funcionamento em novo formato.
16,9% Não. O impacto será pequeno. Temos condições de sobreviver a essa crise.
4. Observando o contexto comunitário no qual atua, se houver atendimento direto à população em vulnerabilidade em seus projetos, você já identifica que estas pessoas estejam HOJE atravessando situação de MAIOR RISCO e com MAIS DIFICULDADE em prover a sua subsistência?
50,2% Sim. A situação piorou e já é bastante grave.
38,5% Está piorando, mas ainda não é de calamidade.
3,5% Não observo diferença. São os mesmos desafios que enfrentavam anteriormente.
7,8% Não tenho como avaliar esta situação.
Solidariedade e cooperação, a nova ordem social
Luiza Serpa, fundadora e diretora do Instituto Phi; Clarice Linhares, superintendente do Banco da Providência e Andréa Gomides, fundadora e presidente do Instituto Ekloos
*Artigo publicado no jornal O GLOBO, edição de 8 de abril de 2020
Em meio às notícias desoladoras sobre as vítimas da Covid-19 e à maior crise global que já vivemos, surge um novo movimento contagiante: o da empatia, da solidariedade, da cooperação. Os brasileiros entenderam rapidamente a importância de somar esforços: seja em dinheiro ou em produtos essenciais para lidar com a pandemia, as doações vêm chegando em centenas. Em duas semanas, a iniciativa RioContraCorona, articulada pelo Instituto Phi, Banco da Providência e Instituto Ekloos, arrecadou R$ 2,6 milhões. Foram mais de dois mil doadores que propiciaram a chegada de 246 toneladas de alimentos e 65 mil litros de materiais de higiene e limpeza a 130 comunidades cariocas, impactando 26 mil famílias . Foi só o começo.
Paralelamente, o grupo União Rio, do qual o RioContraCorona faz parte, já arrecadou, na frente pela saúde, R$ 15 milhões, que estão sendo empregados para ativar leitos em hospitais públicos e comprar respiradores e monitores.
E como se faz isso em tão pouco tempo? Sabe aqueles jogos infantis de cooperação, como o que você precisa passar o bambolê para o colega sem deixar ele parar de girar? Assim estamos trabalhando: juntando experiências, distribuindo o trabalho entre as equipes e, com concentração e sincronia, indo atrás de nossos objetivos de levar comida pra quem tem fome e ajudar a preservar vidas com medidas sanitárias de proteção à saúde.
Várias iniciativas vêm surgindo para chegar com urgência em quem já não tinha muito. Assim, o carioca está ganhando conhecimento de seu território, de suas comunidades e de famílias que ali vivem – pessoas que têm nome, têm voz e têm fome. Que bebem água para acalmar o vazio no estômago em pleno 2020. Quem são os responsáveis por isso? Todos nós! Que aceitamos a situação, fechamos os olhos e ouvidos para ela. Agora, um inimigo invisível levanta o tapete e nos mostra o tamanho da bagunça que estava ali e que precisamos arrumar.
Muitos nos perguntam se, depois de um parasita ter unido milhares de brasileiros numa corrente do bem sem precedentes, a nossa sociedade estará diferente. Não sabemos responder, mas temos a sensação de que uma grande lente de aumento está sendo colocada no problema de desigualdade social do país. E, passado o senso de urgência, os efeitos para o Brasil serão profundos, com impacto para além das vidas perdidas.
Mas sabemos, sim, que a reconstrução de um mundo melhor não é simples fábula. É engenharia. Com ações coordenadas, continuadas, sem demagogia eleitoreira, usando os recursos de modo sustentável em benefício da população, é possível. É o que nos move diariamente.
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