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Dia do Voluntariado: saia do sofá, como Tuninho

Você acredita que é capaz de mudar o mundo? Antônio Januário Neto, o Tuninho, tem certeza de que sim. Não sozinho, claro, mas na companhia de mais de 7 milhões de brasileiros que, como ele, cedem seu tempo para trabalhos voluntários. É por isso que ele atua em mais de 30 projetos sociais e se auto intitula um “ultra-mega-super-hiper-extra-giga-blaster-multi-big-companheiro-voluntário”. Neste Dia Nacional do Voluntariado, vamos contar um pouco da história deste niteroiense de 29 anos que tem uma característica bem peculiar – o autismo – e que transmite uma lição de atitude e de confiança na força da coletividade para transformar duras realidades.

Tuninho organiza alimentos, roupas, livros e brinquedos em campanhas de arrecadação de diversas ONGs, faz palhaçaria com uma trupe em hospitais pediátricos, orfanatos e instituições de assistência a pessoas com deficiência, recolhe flores de festas de casamento para criar pequenos buquês que são ofertados a idosos de casas de repouso, faz coleta de lixo em praias, panfleta em campanhas de conscientização sobre drogas. Ele é de todas as causas. É preciso com datas: seu primeiro trabalho voluntário foi no dia 27 de novembro de 2010, aos 20 anos de idade.

“Vim pra o Planeta Terra pra ajudar a melhorá-lo. Costumo ser o faz-tudo e me sinto totalmente feliz, útil, honrado e realizado nessa tarefa. Quero ter novas e futuras zilhões de ultra-mega-super-extra-multi-mini-big-oportunidades de voluntariados”, diz ele.

Tuninho (de nariz de palhaço), com os Voluntários Engajados, levando alegria e brincadeiras para crianças internadas no Hospital Jesus, em Vila Isabel

Tuninho, que mora com a mãe em Niterói, foi diagnosticado em novembro de 1993, aos 3 anos e 8 meses de idade. Só começou a falar aos 4. Aos 7, numa instituição de tratamento multidisciplinar, ele escreveu um poema que dizia que “a gente vem ao mundo para ajudar nossos semelhantes” e desde então surgiu a vontade de fazer voluntariado. Ele tem dificuldades de socialização e tem total consciência disso, mas não é um empecilho, garante Cássia Souza, coordenadora de Projetos do Atados. A plataforma online, parceira do Instituto Phi, conecta pessoas que querem ser voluntárias, como Tuninho, a instituições que precisam de apoio em suas atividades em todo o Brasil.

“Quando publicamos uma nova vaga ou uma nova organização no eixo Rio-Niterói, imediatamente o Tuninho entra em contato e marca uma visita. Ele é um exemplo de comprometimento e de sensibilidade para causas que perpassam sua vida, ou não – todas as causas de alguma forma despertam nele o desejo de estar envolvido. É muito simbólico ele ter tamanha vontade e dedicação com esse trabalho. Ele precisa do direcionamento inicial, mas depois pega a função e executa com um sorriso no rosto! Nós explicamos às organizações a importância do Tuninho para o Atados e as funções que sabemos que ele gosta de fazer e que tem facilidade, e depois disso é um sucesso”.

Com as voluntárias do projeto Flor Generosa, Tuninho recolhe flores ao fim de festas de casamento para criar buquês e oferecer a idosos em casas de repouso

Apesar dos desafios de mobilizar pessoas para trabalhar sem remuneração em prol de outras pessoas, o brasileiro tem se interessado mais pela prática do voluntariado. Em sete anos de existência, o portal hoje conta com uma rede de 1.853 organizações e 117.925 voluntários cadastrados. E segundo o IBGE, em 2018, 7,2 milhões de brasileiros de 14 anos ou mais cederam parte de seu tempo para o voluntariado. Há vagas para todo perfil de gente:

“Em algumas vagas, é preciso ter habilidades especificas, mas em outras, o voluntariado pode ser um exercício de desenvolvimento de técnica também. A partir da candidatura em nossas vagas, as ONGs entrarão em contato para agendar uma conversa para entender de que forma as habilidades do voluntário e desafios da ONG podem dar um match”, explica Cássia.

Rosa Diaz, também coordenadora de Projetos do Atados, ressalta que em tempos de crise, é comum que cresça o número de pessoas interessadas em participação social. E que, para além dos projetos, o voluntariado proporciona o encontro com pessoas que resistem e criam, que acreditam e colaboram para um mundo melhor.

“A entrada para uma rede de pessoas tão plurais e ativas abre caminhos e ilumina possibilidades de mudanças coletivas. Sem demagogia nenhuma, o voluntariado pode ser o exercício de despertar sonhos, acordar memórias, transformar realidade, instigar os indivíduos a se tornarem cidadãos ativos e de reverberar o amor para o mundo”.

Então, siga o slogan da campanha do Atados para o Dia Nacional do Voluntariado – #EuSaioDoSofá – e faça como Tuninho: saia do sofá!

Atuação de Tuninho como voluntário do projeto Juntos Somos Fortes na Creche São Cosme e São Damião, que atende crianças do morro do Andaraí, Morro do Cruz e arredores

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Para ver de novo o sol da Amazônia

Imagine ver o sol outra vez depois de 20 anos. Em junho do ano passado, a sócia-fundadora e diretora Institucional do Instituto Phi, Fernanda Tizatto*, pôde acompanhar a reação de índios do Xingu que passaram pela experiência de voltar a enxergar após uma cirurgia de catarata. Fernanda participou de uma expedição da Associação Médicos da Floresta (AMDAF) na cidade de Canarana (MT), porção sul da Amazônia brasileira, e por dez dias acompanhou o projeto Olhos do Xingu, de atendimento oftalmológico gratuito nas aldeias. Em tempos de intensificar o respeito aos povos indígenas, decidimos contar mais sobre esse lindo trabalho.

A história da AMDAF começou com o objetivo de mapear as necessidades oftalmológicas de aldeias indígenas isoladas. No primeiro ano, 2016, o grupo de voluntários realizou quatro expedições ao Parque Indígena do Xingu. Com as primeiras visitações, eles puderam constatar de imediato a importância do projeto social que estava sendo iniciado ali.

O trabalho foi ganhando força e representatividade nas comunidades, não só com oftalmologistas, mas também clínicos gerais, enfermeiros, dentistas e tecnólogos, dentre outros tantos profissionais voluntários se dispondo a dedicar alguns dias durante o ano para entender e atender as necessidades das aldeias que estavam sendo visitadas.

Oftalmologista voluntário examina pacientes de aldeia indígena após cirurgia de catarata

Chegar ao Parque Indígena do Xingu não é fácil. Quem vai do Sudeste pega um voo para Goiânia, depois um ônibus até Canarana – a viagem dura cerca de 12 horas – e finalmente viaja de carro, num trajeto de cerca de 2 horas. Mesmo assim, a cada expedição, a AMDAF leva cerca de 30 voluntários, além de equipamentos e insumos para as consultas e cirurgias.

“Pude vivenciar o que o Instituto Phi prega da forma mais simples e pura que é o conceito de filantropia e altruísmo”, diz Fernanda.

Três anos depois, em 12 expedições, já foram realizados 5.381 atendimentos oftalmológicos, 2.152 atendimentos de clínica médica, 115 cirurgias de catarata e pterígios e 1.515 procedimentos odontológicos (tratamento de canal, exodontia, obturações, restauração completa e produção de próteses). Além disso, 1.800 óculos foram entregues, graças a uma parceria com a organização sem fins lucrativos One Dollar Glasses, da Alemanha, que fabrica óculos de grau extremamente resistentes e de baixo custo. O Parque Indígena do Xingu tem mais de 27 mil quilômetros quadrados e cerca de 6 mil habitantes de 16 diferentes etnias.

“Vi que o Brasil é um país muito maior do que imaginamos; no Sudeste, a gente acaba ficando dentro de uma bolha e não se dá conta da riqueza da nossa cultura. Fico envergonhada por constatar como minha visão da comunidade indígena era limitada”, diz Fernanda, ressaltando que a imagem estereotipada faz com que a maioria das pessoas pensem que os índios são os mesmos desde 1500 e que devem mesmo permanecer parados no tempo para que sua identidade seja reconhecida na atualidade.

Sim, os índios do Xingu constroem suas casas, suas canoas, pescam, caçam, tecem suas redes, produzem as ferramentas utilizadas no dia a dia, como vasos de cerâmica, cestos, flechas, arcos. Por isso mesmo, a perda da visão causada pela catarata é tão incapacitante. Mas eles também vão à escola, assistem o noticiário e se organizam para defender seu território coberto por florestas do desmatamento causado pelo avanço da agropecuária, da grilagem e pela abertura de estradas ilegais.

“É muito impactante quando os médicos tiram o tapa-olho, o semblante dos pacientes fica totalmente diferente. De uma hora para outra, esses índios podem voltar a ser participativos em suas aldeias. É um trabalho de inclusão social dos indígenas em suas próprias comunidades”, destaca Fernanda.

Em junho, foi firmada uma parceria entre a Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), do Ministério da Saúde, e a Associação Médicos da Floresta com o objetivo ampliar a oferta de tratamentos de oftalmologia e odontologia para indígenas de regiões longínquas.

Quem quiser conhecer melhor o trabalho da AMDAF pode assistir ao média-metragem “Olhos do Xingu”, no YouTube:

*Fernanda Tizatto viajou ao Xingu para um trabalho de medição de impacto social do projeto Médicos da Floresta para o escritório Pinheiro Neto Advogados.

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