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Agricultura familiar: os quintais ecoprodutivos implantados em casas de idosos pelo SERTA

Boletim Phi – Especial Meio Ambiente

No quintal de sua casa em Alto José do Pinho, Recife (PE), Dona Solange Lira planta verduras e legumes, como alface, tomate, pimentão, berinjela e couve, mas também temperos e chás – as chamadas “farmácias vivas” –, como hortelã, boldo, coentro, manjericão e louro. Aos 63 anos, ela nem imaginava ter um quintal ecoprodutivo e aprender técnicas de cultivo.

Dona Solange participa do projeto “Bem Viver nos Bairros”, do Serviço de Tecnologia Alternativa – SERTA, que atua em Recife e Região Metropolitana. Além de incentivar o reconhecimento do envelhecimento de forma positiva e saudável, o projeto implementa quintais ecoprodutivos na busca da segurança alimentar da população idosa com o aproveitamento dos espaços de suas casas. Através de um censo, são identificados os idosos em vulnerabilidade social.

Por causa da diabete e da pressão alta, ter uma alimentação mais natural tem sido muito bom para Dona Solange. Mais que isso, todo o atendimento que recebe no SERTA – psicológico, fisioterápico, aulas de dança e música, além das visitas da educadora social Cláudia, que cuida da transicão agroecológica, ajudaram a afastar a depressão.

Dona Solange Lira mora sozinha. Deixou de trabalhar há 28 anos, quando nasceu a filha, e precisava cuidar da bebê, ao mesmo tempo que cuidava da mãe enferma. Do marido, acabou se separando. Sua mãe faleceu há 7 anos. A filha agora está em outra cidade fazendo faculdade. Depois de um período difícil, ela voltou a sorrir.

“Agora estou assim, feliz. Abraço todo mundo, dou bom dia a todo mundo. Espero que esse projeto não acabe nunca”.

O projeto já teve duas edições, com a implantação de 600 quintais ecoprodutivos e duas hortas comunitárias no Alto José do Pinho e na Comunidade de Santa Luzia, em Recife. Agora, começará a ser executado, com apoio do Instituto Phi, na Região Metropolitana, beneficiando mais 100 pessoas em Recife, 150 em Jaboatão dos Guararapes, 200 em Cabo de Santo Agostinho e 150 em Ipojuca, num total de 600 pessoas.

O projeto é um exemplo de prática sustentável, na medida em que preserva mais os recursos naturais e a biodiversidade. Além disso, com uma participação de apenas 24,3% da área plantada no Brasil, a agricultura familiar tem grande relevância para a soberania alimentar e o abastecimento do mercado interno. Hoje 70% dos alimentos que estão na mesa dos brasileiros são produzidos por esses produtores.

Transformando a CDD com educação ambiental: o projeto Eco Rede, da Alfazendo

Boletim Phi – Especial Meio Ambiente

Em fevereiro de 1996, fortes chuvas atingiram o Rio de Janeiro, causando uma das piores enchentes da Cidade de Deus. Com o transbordamento do Rio Grande, muitas pessoas perderam tudo que tinham e muitos perderam a vida. Lidiane Santos tinha 5 anos na época, havia acabado de chegar da Bahia com a mãe para morar no bairro, e assistiu tudo.

Tão nova, começou a conhecer os efeitos do descarte irregular de lixo e da eliminação da vegetação nativa, principalmente nas margens dos rios. Hoje com 32 anos, Lidiane é bióloga formada pela UFRJ, coordenadora do Eco Rede – um projeto da ONG Alfazendo que atua com educação socioambiental e desenvolvimento sustentável da Cidade de Deus – e faz mestrado. O tema da dissertação é “Performances das águas: conservação geopoética da Cidade de Deus”.

Atualmente apoiado pelo Instituto Phi, o projeto Eco Rede tem investido recursos e esforços nos últimos 12 anos para enfrentar problemas graves da Cidade de Deus: a coleta deficiente do lixo domiciliar e os impactos ambientais causados pelo tratamento inadequado dos resíduos sólidos.

Lidiane, que começou a trabalhar na Alfazendo como estagiária, há seis anos, conta que o primeiro incômodo do Eco Rede é o racismo ambiental, isto é, como a populações

marginalizadas e historicamente invisibilizadas são as mais afetadas pela poluição e degradação ambiental.

“Nossa meta principal sempre foi acabar com os lixões e trazer uma perspectiva de coleta seletiva solidária para a CDD. Para isso, o primeiro passo é que os moradores entendam que são parte fundamental da transformação”, destaca.

Para sensibilizar a população a não jogar lixo no rio e suas margens e fazer o descarte correto dos resíduos, as oficinas de educação socioambiental do Eco Rede resgatam a importância do Rio Grande e seus afluentes para a CDD.

“Contamos que os primeiros moradores que chegaram ao território pescavam nesse rio, se banhavam e cultivavam plantas comestíveis às suas margens. Também ressaltamos a importância do catador dentro do ciclo produtivo”, explica Lidiane.

Com o trabalho de educação socioambiental, o projeto já beneficiou diretamente mais de 45 mil pessoas, conta a educadora e cofundadora da Alfazendo, Iara Oliveira:

“Temos parcerias com as 26 escolas do bairro, propondo formação de professores e oficinas de educação socioambiental para os alunos. O EcoRede já faz parte do projeto pedagógico da rede escolar da CDD, promovendo desde contações de histórias e teatro para as crianças da creche até jogos colaborativos e rodas de conversas para o Ensino Fundamental e Médio. Em algumas dessas escolas, implementamos hortas pedagógicas, num trabalho integrado com as famílias”.

Além de seu programa em escolas locais, o projeto Eco Rede também oferece treinamento para catadores de materiais recicláveis. Uma das principais iniciativas que a EcoRede apoiou foi a construção de ecopontos na Cidade de Deus para que os moradores descartem o lixo reciclável de forma que facilite o trabalho dos catadores.

Do extrativismo ilegal ao ativismo de meio ambiente: a história de Eduardo, do IA-RBMA

Boletim Phi – Especial Meio Ambiente

De uma família que vivia do extrativismo ilegal de palmito juçara, Eduardo Rodrigues Netto hoje trabalha com educação ambiental no município de Iporanga (SP). O palmito juçara está em extinção e a prática ameaça não só sua preservação, mas também de todas as espécies da fauna que se alimentam dela, trazendo prejuízos ao meio ambiente como um todo.

A história de transformação de Eduardo começou com um programa de formação em ecoturismo do Instituto Amigos da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica – IA-RBMA. Ele começou a trabalhar como guia turístico do Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira e do Parque Estadual Caverna do Diabo, que compõem a Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. São mais de 250 cavernas catalogadas, além de vales, montanhas, rios e cachoeiras. Depois, foi estudar Biologia.

No início deste ano, diante do cenário pós-Covid, o Instituto Phi começou a apoiar o projeto do IA-RBMA de capacitação do receptivo de turismo de base comunitária na comunidade Ribeirão, em Iporanga.

O turismo de base comunitária alia educação ambiental, preservação da natureza, valorização da cultura de comunidades tradicionais e desenvolvimento econômico. 

Houve uma mudança de mentalidade não só de Eduardo, mas de toda a sua família sobre o ecoturismo, que oferece não só proteção de ecossistemas preciosos para a garantia da vida na Terra, mas também  uma alternativa de subsistência sustentável. Eles deixaram de trabalhar com o extrativismo ilegal de palmito.

“Atualmente, o IA-RBMA está executando a capacitação em comunidades do Ribeirão e quilombolas, dando ferramentas para quem possam ter uma visão empreendedora de suas atividades, sejam de agricultura, hospedagem, gastronomia ou cultura, por exemplo, para que o turista saiba a riqueza do que está levando”, conta Eduardo.

Por um mundo menos desigual e mais justo: Phi publica o Relatório Anual 2022

De questões como insegurança alimentar e impactos na saúde mental a evasão escolar e desemprego, em 2022 tivemos de lidar com os efeitos de longo alcance da pandemia de Covid. No Relatório Anual do Instituto Phi, mostramos que, com projetos filantrópicos inovadores, estratégicos e estruturados, atuamos para combater as desigualdades que afetaram desproporcionalmente as comunidades marginalizadas. Um total de 386 projetos sociais receberam recursos da ordem de R$ 22.652.930,57 no ano passado, beneficiando 656.736 pessoas em todo o Brasil. Para nós, não é um momento. É um movimento, desde 2014.

Acesse o RA 2022 aqui.

Uma ponte no mercado de trabalho para pessoas pretas

No dia 13 de Maio, conversamos com Vitor Del Rey, do Instituto Guetto, sobre os programas da organização para promover equidade racial

O mercado de trabalho brasileiro é um dos terrenos mais áridos para pessoas pretas. Mesmo quando supera os obstáculos educacionais, a população preta tem menos acesso ao mercado de trabalho e menos oportunidades de crescimento. Para transformar esse cenário, em 2019 foi fundado o Instituto Guetto, uma organização social que cria soluções para lideranças e empresas visando a equidade racial.

Desde o mês passado, o Guetto recebe o apoio do Instituto Phi para seu projeto Escola da Ponte para Pretxs. Às vésperas do 13 de Maio, conversamos com o presidente, Vitor Del Rey, sobre este e outros programas da organização que visam garantir a mobilidade social que foi negada às pessoas pretas quando libertadas pela escravatura sem nenhuma política de proteção.

Como foi o seu despertar para a luta antirrascista?

Sou da Baixada Fluminense, filho de mãe preta, que criou os 6 filhos com o dinheiro da máquina de costura. Tive dificuldade de aprender a ler e escrever. Quem me ensinou foi a minha tia Débora, que era professora e tinha um quarto de leitura. Foi ela quem despertou o meu gosto pelos livros. Em 2013, com 26 anos, deprimido depois de perder emprego e namorada, comecei a ler os grandes filósofos da humanidade buscando dar sentido para a minha vida. Fui conversar com um pastor e psicólogo, que me fez duas perguntas: Onde você gostaria de estar daqui a 5 anos? E o que você gostaria de estar fazendo? E eu pensei que gostaria de estar na minha formatura da faculdade – porque depois do ensino médio eu parei de estudar para ficar só trabalhando – e de estar empregado no que me formei. A primeira coisa que fiz depois dessa conversa foi me inscrever no pré-vestibular da Educafro, organização social referência que tem a missão de incluir de pessoas pretas no ensino superior. Ali eu comecei a adquirir consciência racial, com 26 anos.  Mergulhei de cabeça na militância. Eu fui uma criança que odiava que minha pele fosse tão preta, odiava meu cabelo e meu nariz. E aí, na retrospectiva da minha vida, entendi todo o racismo que sofri na escola, na igreja. Agora eu era o cara cursando Ciências Sociais, participando de reuniões com o Ministro da Educação, estava no centro do meu propósito. Hoje penso que, se existe reencarnação, eu quero vir preto de novo todas as vezes.

Como surgiu o Ponte Para Pretxs e quantas pessoas integram atualmente a rede?

Cursei a graduação em Ciências Sociais e o mestrado em Administração Pública na FGV. Na faculdade de ricos, onde muitos alunos tinham pais empresários ou eram empresários, enquanto o Brasil começava a falar sobre a falta de diversidade racial no mercado corporativo. Como eu era ativista, recebia convites para dar palestras em empresas. E começava a palestra perguntando se na companhia havia alguma cláusula que proibia a contratação de pretos para outros serviços além de fazer café, limpar o chão e fazer o crachá de visitantes. As pessoas se assustavam e eu dizia: essa deve ser a explicação para não ter nenhum preto aqui. A resposta era que elas não sabiam onde encontrar os profissionais. Me ofereci, então, para fazer essa ponte. Então, criei em 2014 uma comunidade de Facebook chamada Ponte pra Pretxs, integrada por pessoas pretas que compartilham oportunidades de emprego, estágios, bolsas de estudo nacionais e internacionais. Começamos com 45 pessoas. Hoje, são 45 mil.

E a Escola da Ponte para Pretxs?

Em 2019, a Ponte para Pretxs estava a todo vapor, mas as pessoas pretas ainda não conseguiam emprego. Os empregadores diziam que o problema era falta de qualificação, mas os profissionais tinham ensino superior, então fui perguntar para meus colegas brancos porque eles conseguiam emprego. Falaram que faculdade todo mundo tem, precisávamos de cursos de curta duração de temas como Branding, Storytelling. Comecei a buscar quem podia dar aulas, começando por Excel e Design Thinking. Mas eu não tinha nem computador para mim, como ia arrumar uma sala para essa aula? Fui para o Coletivo Ovelha Negra da FGV e pedi um laboratório com 40 computadores, e tinha muito mais gente interessada. A Escola da Ponte começa aí. Hoje, atua no modelo de Ensino a Distância, com cursos dentro das trilhas tecnologia, competências socioemocionais, línguas, educação corporativa e empreendedorismo.

Antes, você lançou a plataforma Kilombu, que foi um grande sucesso, pode explicar como funciona?

O Kilombu é uma plataforma digital que conecta afroempreendedores com clientes e parceiros comerciais, estimulando o afronegócio e o afroconsumo. Nasceu como ideia em dezembro de 2015 e algumas inquietações que vieram do Ponte para Pretxs. Ele parte das ideias do “Se não me vejo, não compro” e do “Nós por nós”. É uma iniciativa para fazer o dinheiro circular dentro da comunidade negra, tem um forte senso de cooperação. Pessoas no Ponte pediam referências de profissionais pretos, de empresas lideradas por pretos, e percebemos que isso era uma oportunidade. Em fevereiro de 2016, o Kilombu surgia como a primeira startup preta do Brasil e abriu caminho para o nascimento de várias outras.

O Guetto também dá consultoria para a criação de comitês de diversidade em empresas. Como funciona?

O ponto de partida é sempre um diagnóstico organizacional para subsidiar o desenho das iniciativas: identificar lideranças,  criar pautas sobre questões raciais, elaborar um código de conduta, criar canais de denúncias. É um direcionamento para que esses comitês realmente pautem políticas de reparação e promoção da equidade e não sejam só um espaço de encontro. Se a empresa já tem esse comitê, ajudamos no letramento racial para avançar na luta antirrascista.

Recentemente, o Instituto Guetto fez algumas parcerias com algumas organizações internacionais para promover treinamentos, pode nos contar?

Em parceria com a Escola de Empreendedorismo Internacional Leadership Academy Stroud, oferecemos um treinamento na metodologia Lin Six Sigma, adotada por muitas empresas, que usa um esforço de equipe colaborativa para melhorar o desempenho organizacional. A turma tinha 16 alunos e durou cerca de 8 meses, com aulas em inglês traduzidas. Também promovemos um curso de Audiovisual para 17  jovens do Complexo do Vidigal em parceria com a organização social italiana Voice Over. Todos eles ganharam um notebook e tiveram aulas presenciais de criação de roteiro, técnicas de filmagem pelo celular, edição. Foram 7 meses de curso mais 6 meses de acompanhamento.

Este Dia da Abolição da Escravatura, 13 de maio: é um dia para se comemorar? A Abolição está nos livros de histórias, mas ao libertar escravizados sem oferecer nenhuma política de proteção, o racismo foi perpetuado e a gente ainda não vive, nos dias de hoje, a plena libertação.  Quando olhamos para a Carta Universal de Direitos Humanos, vemos que muitos deles ainda nos são negados. A começar pela população em situação de rua ou em ocupações irregulares, que são em sua maioria pessoas oriundas do processo de libertação, jogadas nas ruas com a roupa do corpo. Então é uma data pró-forma, não há o que se comemorar. É mais um dia de denúncia.

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