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Tragédia Yanomami: confira a entrevista com o fundador dos Médicos da Floresta, organização apoiada pelo Instituto Phi

À frente de uma das poucas equipes profissionais que tiveram acesso à terra indígena, Celso Takashi destaca que tratar da contaminação da água é o ponto de partida

No ano passado, a AMDAF – Associação Médicos da Floresta, organização apoiada pelo Instituto Phi, esteve pela primeira vez na Terra Yanomâmi, na Floresta Amazônica, que é atualmente palco de uma tragédia humanitária. A equipe de voluntários, que há seis anos leva tratamento médico de alta qualidade para áreas remotas, atendeu a duas etnias em sete regiões. Desde que voltou da primeira missão, com o apoio financeiro de empresas e pessoas físicas, atendendo aos apelos dos líderes locais, a AMDAF conseguiu mobilizar outras três viagens para Roraima em 2022. Trata-se de uma das poucas equipes profissionais que acessaram o povo Yanomâmi.

Em entrevista ao Instituto Phi, o Dr. Celso Takashi, oftalmologista, cirurgião especializado em catarata e um dos fundadores da AMDAF, conta que nunca havia visto nada parecido com a vulnerabilidade encontrada –  fruto da avanço do garimpo ilegal, que provocou desmatamento, destruição do leito dos rios, contaminação por mercúrio, aumento dos casos de malária, perda da soberania alimentar e desnutrição infantil. Ele destaca que tratar da contaminação da água é o ponto de partida para que o povo Yanomâmi possa viver com saúde. Confira a entrevista:

Como é o trabalho dos Médicos da Floresta e em que regiões atua?

Conectamos profissionais de saúde às necessidades dos nossos povos originários, em especial os que estão em regiões de difícil acesso. Prestamos atendimento médico clínico e cirúrgico, assistência odontológica e oftalmológica. Começamos pela oftalmologia, mas era preciso fazer mais. Sempre trabalhamos com clínicos gerais, pediatras e enfermeiros e depois incorporamos odontologia, ginecologia, infectologia e outras áreas. Dependendo das demandas da região, personalizamos a formação da equipe. Já percorremos o Parque Indígena do Xingu, no Mato Grosso; aldeias do Povo Pataxó, no extremo sul do Estado da Bahia; território Kaiowá, em Dourados (MS); comunidades do leste de Roraima e Terra Indígena do Vale do Javari (AM), além da Terra Yanomami (AM e RR). Regiões bem distintas e com problemas bem peculiares, mas que, de maneira geral, têm uma carência de infraestrutura básica de saúde, falta de indicadores que orientem os profissionais da área e escassez de medicamentos. 

Quantos profissionais já participaram das expedições e quantos atendimentos foram realizados?

Ao longo destes seis anos, mais de 100 voluntários. Eles vêm e vão, alguns participam de algumas expedições e não de outras. Incrivelmente, o limitante não é o profissional médico, temos um voluntariado forte. A parte mais difícil é o backoffice, isto é, a logística e a captação de recursos, porque as ações demandam um custo operacional alto, especialmente o deslocamento para as terras indígenas e a compra de medicamentos. Temos mais de 9 mil atendimentos prestados, dentre consultas médicas, oftalmológicas e odontológicas, mais de 300 cirurgias oftalmológicas e quase 3 mil óculos distribuídos, além de mais de 2 mil procedimentos odontológicos realizados.

Quais os desafios enfrentados pelas ONGs?

Existem as dificuldades logísticas, já que as ONGs que trabalham com povos originários muitas vezes operam em áreas remotas e de difícil acesso, o que pode dificultar a logística de transporte e suprimentos, a exigência de altos custos financeiros, devido ao transporte de equipamentos e equipes, e, muitas vezes, os desafios culturais, como a barreira do idioma, crenças e hábitos diferentes. É imprescindível trabalhar com respeito à cultura e às tradições das comunidades para estabelecer o elo de confiança. Crenças e práticas espirituais diferentes da medicina ‘tradicional’ precisam ser respeitadas. Na maioria das vezes, é importante trabalhar com intérpretes para garantir uma comunicação eficaz.

Como a realidade Yanomami é diferente da dos demais povos indígenas?

É inquestionável o quanto a presença dos garimpeiros contribui para o quadro de desnutrição severa, resultado da contaminação do solo e da fuga da caça, e para a proliferação de doenças na Terra Yanomâmi. A malária é totalmente tratável, mas com a miscigenação, vai havendo uma contaminação sequencial e, como o estado geral de saúde dos indígenas é muito frágil, principalmente o das crianças, que são subnutridas, a doença acaba sendo fatal. As equipes de saúde tentam tratar as verminoses, mas vivendo numa região contaminada, em pouco tempo o indígena é acometido novamente. É um ciclo perverso. E tem ainda a questão do mercúrio que contamina as águas, o que provoca problemas de médio e longo prazo muito graves, que atingem os sistemas esquelético e neurológico. Talvez ainda nem tenhamos tido tempo para ver quais serão todas as consequências. 

Além do combate ao garimpo ilegal, o que é preciso para solucionar o problema?

Há uma carência absoluta de saneamento básico e água segura. A água é contaminada, não só pelo mercúrio, mas também outros patógenos, como vermes,  vírus, bactérias e protozoários. Minha opinião é que é necessário um plano de médio a longo a prazo de saneamento básico, achando um equilíbrio entre preservação da cultura indígena e o mínimo de condições para eles viverem com saúde.  Sem água de qualidade, o risco é tratar os doentes, mas as doenças voltarem. Por isso, começamos a firmar parcerias para buscar soluções. No curto prazo, com algumas startups que disponibilizam filtros portáteis de carvão ativado ou de membrana. Para o médio e longo prazo, estamos conversando com agências sobre parcerias para a construção de sistemas mais robustos e de longa duração, com perfuração de poços e tratamento de água.

Está nos planos dos Médicos da Floresta retornar para a Terra Yanomami?

Com  a intervenção federal e a presença maciça das forças armadas e da equipe do Ministério da Saúde, acreditamos que a ação emergencial esteja sendo bem conduzida. Quando essa força-tarefa começar a se dissipar, melhoras contínuas e o acompanhamento das populações serão fundamentais para que a população se mantenha saudável. Nesse momento, teremos um papel importante para complementar o trabalho que foi iniciado. Paralelamente, estamos planejando ações cirúrgicas no Xingu e no Vale do Javari e também trabalhando para viabilizar nosso projeto de uma unidade móvel, um ônibus que será transformado num consultório médico itinerante. Estamos na fase final de captação de recursos.

No Boletim Phi, leia matéria sobre projetos sociais que apoiam os povos originários

Organizações Vencedoras do Desafio Phi de Educação para Gentileza e Generosidade

O Desafio Phi de Educação para Gentileza e Generosidade 2022 visa destacar e premiar ações generosas e solidárias que envolvam organizações sociais (OSC’s), beneficiários diretos e indiretos, equipe e toda a comunidade do entorno. Conheça as organizações vencedoras:

  • Excelência em Inovação – CEAP 
  • Excelência em Mobilização – Associação Beneficente Vivenda da Criança 
  • Excelência em Criatividade – Instituto Associação ASVI CDD – Associação Semente da Vida da Cidade de Deus

Comissão avaliadora:

Diogo Bezerra da Silva – Mais1Code

Guilherme Mattoso – Movimento Bem Maior

Adriana Rocha e Ana Paula Dias – AFAGO-SP

Débora Verdan – Escola Aberta do Terceiro Setor / Fundação José de Paiva Netto

Elpis Ziouva e Marina Pechlivanis – Equipe Umbigo do Mundo/Educação para Gentileza e Generosidade

Cristiana Velloso – Equipe Phi 

O papel fundamental das mulheres na filantropia


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Luiza Serpa

Artigo publicado na Revista Filantropia

O mundo da filantropia está mudando. Há mais ênfase, por exemplo, em causas como igualdade de gênero e sustentabilidade. É que uma gama mais diversificada e representativa de vozes está começando a influenciar a tomada de decisões. E são as mulheres que estão entre os principais impulsionadores desta mudança – de um lado, as doadoras e, de outro, as empreendedoras sociais e líderes comunitárias. Eu as vejo todos os dias.

As mulheres em todos os níveis de renda, raça, etnias e gerações estão mais propensas a doar – e doar mais – de acordo com pesquisas, como a conduzida pelo Women’s Philanthropy Institute, na Indiana University Lilly Family School of Philanthropy, ou o “Brasil Giving 2021: Um retrato da doação no Brasil”, do Instituto de Desenvolvimento para o Investimento Social (IDIS).  

O crescente poder financeiro das mulheres, embora ainda seja desigual e injusto, vem representando para elas uma oportunidade de dar voz às questões com as quais se preocupam e contribuir para a transformação social.  Não que mulheres fazendo filantropia seja novidade. Mas, por muitas décadas, elas doavam dinheiro em nome de seus maridos ou o faziam sem amplo reconhecimento. 

Ao mesmo tempo, no terceiro setor, segundo estudo do IPEA, as mulheres são maioria e representam 65% das pessoas empregadas nas Organizações da Sociedade Civil (vale destacar que, com a cultura do patriarcado, certamente os homens ainda são maioria em posições de liderança, como em todos os setores da economia). Essas mulheres são empreendedoras sociais, líderes comunitárias e muitas trabalhadoras que estão assumindo riscos e inovando; que estão construindo um novo caminho no setor filantrópico dentro de suas respectivas causas ao enfrentar problemas históricos usando novas soluções.

São mulheres que muitas vezes vivem com a sobrecarga de jornadas triplas (casa, emprego e filhos), cuidando de suas famílias e ainda de tantas outras em situação de vulnerabilidade. Muitas delas provenientes de famílias pobres, buscando quebrar o ciclo de pobreza intergeracional. Fomentando ou buscando redes de apoio para buscar aprendizado contínuo, compartilhar conhecimento e gerar valor. Nomes? Tenho uma lista que não acaba!

Neste Dia Internacional da Mulher, eu gostaria de dizer que sinto tanto orgulho de ser mulher. Nunca foi uma jornada fácil, mas continuaremos buscando novas perspectivas para nos relacionar com o mundo e ajudar a garantir a redução das desigualdades e mais justiça para todas e todos.

Agradecimento escrito à mão: um abraço à distância no doador e na Equipe Phi

Há poucos dias, chegou um e-mail especial para o Instituto Phi. Virou o assunto do dia da equipe: era uma carta de duas laudas escrita à mão e escaneada. Coisa rara nos dias de hoje, o manuscrito era de Evelin Mello, fundadora e diretora da Digna Engenharia, startup que realiza pequenas reformas com preços acessíveis ou subsidiadas em moradias pobres de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Com uma letra caprichosa, ela escreveu de próprio punho um agradecimento ao doador que financia as obras da Digna para moradores em extrema vulnerabilidade social e à equipe do Phi.

A carta manuscrita por Evelin Melo de agradecimento ao doador e à Equipe Phi

A Digna nasceu em 2018 da capital sul-mato-grossense, fundada por Evelin, uma menina periférica, de baixa renda, mãe jovem, recém-formada e empreendedora. Neste mesmo ano, o negócio de impacto nascente foi selecionado, dentre 380 projetos, para ser um dos 15 acelerados pelo Lab Habitação da Artemisia, em São Paulo. Desses, três foram eleitos para receber “investimento semente ” e a Digna foi um deles.

Foi aí que o caminho da Digna e do Instituto Phi se cruzaram. No encerramento do Lab da Artemisia, estava a equipe Phi, em busca de projetos inovadores na área de habitação social para apresentar aos seus doadores. A Digna ganhou o apoio do Phi para o programa de reformas subsidiadas desde seu início.

Com a sua atuação, a Digna combate a insalubridade, promove saúde e amplia o acesso da população de baixa renda a reformas profissionais. Hoje, cinco anos depois de sua fundação, já foram reformados cômodos de 250 casas vulneráveis, 99 delas subsidiadas com o apoio de um único doador, anônimo, do Instituto Phi.

“Acho que as cartas, ao serem escritas de próprio punho, demonstram verdadeiramente nosso afeto. E eu sempre quis agradecer ao nosso doador, que eu só conheço com ‘Investidor 1’. Queria dizer o que ele significa para todos os moradores com quem ele contribuiu, como é quando chegamos na casa da pessoa beneficiada e contamos que a reforma dela será feita sem nenhum custo. Além disso, quando ele começou a doar o recurso, lá em 2018, foi a primeira pessoa que acreditou na Digna e em mim como empreendedora”, diz Evelin.

Um dos trechos da carta diz: “No ano de 2023, vamos celebrar 5 anos de apoio e só consigo falar o quanto somos gratos por todos esses anos. Sonhamos um dia abraçar cada pessoa da equipe do doador e do Instituto Phi, agradecer por fazerem parte da construção de uma ponte de transformação de vidas”.

Recentemente, nosso coordenador de projetos Marcello Stella esteve com Evelin em Campo Grande, visitando algumas das obras realizadas com apoio do Phi. Dentre elas, a de Dona Francisca e Seu Carlos, ambos idosos e com deficiência visual, conta ela:

“Eles fazem tudo sozinhos, limpam a casa. Porém, antes da reforma, o banheiro estava muito insalubre, com chão de lodo, e Dona Francisca caiu e se machucou. Tudo isso mexeu muito comigo. Como você vai mostrar para uma pessoa que não enxerga que estamos entregando não só um banheiro prático, com barra de acessibilidade, piso antiderrapante, mas também um banheiro bonito? Então, escolhemos para eles um revestimento de parede que tinha uma textura de flor. Quando eles passam a mão, sentem. Foi lindo quando fizemos a entrega da obra. O Marcello, do Phi, visitou a casa e não conseguiu conter a emoção com os agradecimentos deles. Foi legal que a equipe Phi pôde escutar o que eu escuto sempre”.

Uma carta escrita à mão carrega mesmo muito mais do que palavras. Receba você também, Evelin, nosso agradecimento por esse abraço afetuoso à distância.

Evelin com Dona Francisca e Seu Carlos, que tiveram o banheiro reformado
Marcello Stella, do Phi, com Evelin, em visita às obras da Digna Engenharia

A virtude da raiva 

A raiva é um sentimento comum, assim como o medo, a surpresa e o afeto. Quando utilizada de forma precipitada e agressiva, ela é capaz de machucar o outro e causar danos irreparáveis. Mas, se for canalizada com sabedoria, pode promover impacto de forma positiva. 

A injustiça e a desigualdade social, por exemplo, causam raiva em muitas pessoas. E esse sentimento impulsiona ações disruptivas, em prol do bem comum. Em “A virtude da raiva”, Arun Gandhi compartilha algumas lições que aprendeu com seu avô Mahatma Gandhi, líder mundial da luta pela independência da Índia.  

Entre os ensinamentos que o neto de Gandhi recebeu estão: os pilares da não violência, a força da humildade, a importância de opinar sem medo e o direcionamento do poder da raiva para o bem. O livro é um convite para a reflexão e ação. “Use a raiva com sabedoria. permita que ela o ajude a encontrar soluções com amor e verdade.” Phica a Dica!  

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