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Do extrativismo ilegal ao ativismo de meio ambiente: a história de Eduardo, do IA-RBMA

Boletim Phi – Especial Meio Ambiente

De uma família que vivia do extrativismo ilegal de palmito juçara, Eduardo Rodrigues Netto hoje trabalha com educação ambiental no município de Iporanga (SP). O palmito juçara está em extinção e a prática ameaça não só sua preservação, mas também de todas as espécies da fauna que se alimentam dela, trazendo prejuízos ao meio ambiente como um todo.

A história de transformação de Eduardo começou com um programa de formação em ecoturismo do Instituto Amigos da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica – IA-RBMA. Ele começou a trabalhar como guia turístico do Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira e do Parque Estadual Caverna do Diabo, que compõem a Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. São mais de 250 cavernas catalogadas, além de vales, montanhas, rios e cachoeiras. Depois, foi estudar Biologia.

No início deste ano, diante do cenário pós-Covid, o Instituto Phi começou a apoiar o projeto do IA-RBMA de capacitação do receptivo de turismo de base comunitária na comunidade Ribeirão, em Iporanga.

O turismo de base comunitária alia educação ambiental, preservação da natureza, valorização da cultura de comunidades tradicionais e desenvolvimento econômico. 

Houve uma mudança de mentalidade não só de Eduardo, mas de toda a sua família sobre o ecoturismo, que oferece não só proteção de ecossistemas preciosos para a garantia da vida na Terra, mas também  uma alternativa de subsistência sustentável. Eles deixaram de trabalhar com o extrativismo ilegal de palmito.

“Atualmente, o IA-RBMA está executando a capacitação em comunidades do Ribeirão e quilombolas, dando ferramentas para quem possam ter uma visão empreendedora de suas atividades, sejam de agricultura, hospedagem, gastronomia ou cultura, por exemplo, para que o turista saiba a riqueza do que está levando”, conta Eduardo.

Por um mundo menos desigual e mais justo: Phi publica o Relatório Anual 2022

De questões como insegurança alimentar e impactos na saúde mental a evasão escolar e desemprego, em 2022 tivemos de lidar com os efeitos de longo alcance da pandemia de Covid. No Relatório Anual do Instituto Phi, mostramos que, com projetos filantrópicos inovadores, estratégicos e estruturados, atuamos para combater as desigualdades que afetaram desproporcionalmente as comunidades marginalizadas. Um total de 386 projetos sociais receberam recursos da ordem de R$ 22.652.930,57 no ano passado, beneficiando 656.736 pessoas em todo o Brasil. Para nós, não é um momento. É um movimento, desde 2014.

Acesse o RA 2022 aqui.

Uma ponte no mercado de trabalho para pessoas pretas

No dia 13 de Maio, conversamos com Vitor Del Rey, do Instituto Guetto, sobre os programas da organização para promover equidade racial

O mercado de trabalho brasileiro é um dos terrenos mais áridos para pessoas pretas. Mesmo quando supera os obstáculos educacionais, a população preta tem menos acesso ao mercado de trabalho e menos oportunidades de crescimento. Para transformar esse cenário, em 2019 foi fundado o Instituto Guetto, uma organização social que cria soluções para lideranças e empresas visando a equidade racial.

Desde o mês passado, o Guetto recebe o apoio do Instituto Phi para seu projeto Escola da Ponte para Pretxs. Às vésperas do 13 de Maio, conversamos com o presidente, Vitor Del Rey, sobre este e outros programas da organização que visam garantir a mobilidade social que foi negada às pessoas pretas quando libertadas pela escravatura sem nenhuma política de proteção.

Como foi o seu despertar para a luta antirrascista?

Sou da Baixada Fluminense, filho de mãe preta, que criou os 6 filhos com o dinheiro da máquina de costura. Tive dificuldade de aprender a ler e escrever. Quem me ensinou foi a minha tia Débora, que era professora e tinha um quarto de leitura. Foi ela quem despertou o meu gosto pelos livros. Em 2013, com 26 anos, deprimido depois de perder emprego e namorada, comecei a ler os grandes filósofos da humanidade buscando dar sentido para a minha vida. Fui conversar com um pastor e psicólogo, que me fez duas perguntas: Onde você gostaria de estar daqui a 5 anos? E o que você gostaria de estar fazendo? E eu pensei que gostaria de estar na minha formatura da faculdade – porque depois do ensino médio eu parei de estudar para ficar só trabalhando – e de estar empregado no que me formei. A primeira coisa que fiz depois dessa conversa foi me inscrever no pré-vestibular da Educafro, organização social referência que tem a missão de incluir de pessoas pretas no ensino superior. Ali eu comecei a adquirir consciência racial, com 26 anos.  Mergulhei de cabeça na militância. Eu fui uma criança que odiava que minha pele fosse tão preta, odiava meu cabelo e meu nariz. E aí, na retrospectiva da minha vida, entendi todo o racismo que sofri na escola, na igreja. Agora eu era o cara cursando Ciências Sociais, participando de reuniões com o Ministro da Educação, estava no centro do meu propósito. Hoje penso que, se existe reencarnação, eu quero vir preto de novo todas as vezes.

Como surgiu o Ponte Para Pretxs e quantas pessoas integram atualmente a rede?

Cursei a graduação em Ciências Sociais e o mestrado em Administração Pública na FGV. Na faculdade de ricos, onde muitos alunos tinham pais empresários ou eram empresários, enquanto o Brasil começava a falar sobre a falta de diversidade racial no mercado corporativo. Como eu era ativista, recebia convites para dar palestras em empresas. E começava a palestra perguntando se na companhia havia alguma cláusula que proibia a contratação de pretos para outros serviços além de fazer café, limpar o chão e fazer o crachá de visitantes. As pessoas se assustavam e eu dizia: essa deve ser a explicação para não ter nenhum preto aqui. A resposta era que elas não sabiam onde encontrar os profissionais. Me ofereci, então, para fazer essa ponte. Então, criei em 2014 uma comunidade de Facebook chamada Ponte pra Pretxs, integrada por pessoas pretas que compartilham oportunidades de emprego, estágios, bolsas de estudo nacionais e internacionais. Começamos com 45 pessoas. Hoje, são 45 mil.

E a Escola da Ponte para Pretxs?

Em 2019, a Ponte para Pretxs estava a todo vapor, mas as pessoas pretas ainda não conseguiam emprego. Os empregadores diziam que o problema era falta de qualificação, mas os profissionais tinham ensino superior, então fui perguntar para meus colegas brancos porque eles conseguiam emprego. Falaram que faculdade todo mundo tem, precisávamos de cursos de curta duração de temas como Branding, Storytelling. Comecei a buscar quem podia dar aulas, começando por Excel e Design Thinking. Mas eu não tinha nem computador para mim, como ia arrumar uma sala para essa aula? Fui para o Coletivo Ovelha Negra da FGV e pedi um laboratório com 40 computadores, e tinha muito mais gente interessada. A Escola da Ponte começa aí. Hoje, atua no modelo de Ensino a Distância, com cursos dentro das trilhas tecnologia, competências socioemocionais, línguas, educação corporativa e empreendedorismo.

Antes, você lançou a plataforma Kilombu, que foi um grande sucesso, pode explicar como funciona?

O Kilombu é uma plataforma digital que conecta afroempreendedores com clientes e parceiros comerciais, estimulando o afronegócio e o afroconsumo. Nasceu como ideia em dezembro de 2015 e algumas inquietações que vieram do Ponte para Pretxs. Ele parte das ideias do “Se não me vejo, não compro” e do “Nós por nós”. É uma iniciativa para fazer o dinheiro circular dentro da comunidade negra, tem um forte senso de cooperação. Pessoas no Ponte pediam referências de profissionais pretos, de empresas lideradas por pretos, e percebemos que isso era uma oportunidade. Em fevereiro de 2016, o Kilombu surgia como a primeira startup preta do Brasil e abriu caminho para o nascimento de várias outras.

O Guetto também dá consultoria para a criação de comitês de diversidade em empresas. Como funciona?

O ponto de partida é sempre um diagnóstico organizacional para subsidiar o desenho das iniciativas: identificar lideranças,  criar pautas sobre questões raciais, elaborar um código de conduta, criar canais de denúncias. É um direcionamento para que esses comitês realmente pautem políticas de reparação e promoção da equidade e não sejam só um espaço de encontro. Se a empresa já tem esse comitê, ajudamos no letramento racial para avançar na luta antirrascista.

Recentemente, o Instituto Guetto fez algumas parcerias com algumas organizações internacionais para promover treinamentos, pode nos contar?

Em parceria com a Escola de Empreendedorismo Internacional Leadership Academy Stroud, oferecemos um treinamento na metodologia Lin Six Sigma, adotada por muitas empresas, que usa um esforço de equipe colaborativa para melhorar o desempenho organizacional. A turma tinha 16 alunos e durou cerca de 8 meses, com aulas em inglês traduzidas. Também promovemos um curso de Audiovisual para 17  jovens do Complexo do Vidigal em parceria com a organização social italiana Voice Over. Todos eles ganharam um notebook e tiveram aulas presenciais de criação de roteiro, técnicas de filmagem pelo celular, edição. Foram 7 meses de curso mais 6 meses de acompanhamento.

Este Dia da Abolição da Escravatura, 13 de maio: é um dia para se comemorar? A Abolição está nos livros de histórias, mas ao libertar escravizados sem oferecer nenhuma política de proteção, o racismo foi perpetuado e a gente ainda não vive, nos dias de hoje, a plena libertação.  Quando olhamos para a Carta Universal de Direitos Humanos, vemos que muitos deles ainda nos são negados. A começar pela população em situação de rua ou em ocupações irregulares, que são em sua maioria pessoas oriundas do processo de libertação, jogadas nas ruas com a roupa do corpo. Então é uma data pró-forma, não há o que se comemorar. É mais um dia de denúncia.

O papel fundamental das mulheres na filantropia


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Luiza Serpa

Artigo publicado na Revista Filantropia

O mundo da filantropia está mudando. Há mais ênfase, por exemplo, em causas como igualdade de gênero e sustentabilidade. É que uma gama mais diversificada e representativa de vozes está começando a influenciar a tomada de decisões. E são as mulheres que estão entre os principais impulsionadores desta mudança – de um lado, as doadoras e, de outro, as empreendedoras sociais e líderes comunitárias. Eu as vejo todos os dias.

As mulheres em todos os níveis de renda, raça, etnias e gerações estão mais propensas a doar – e doar mais – de acordo com pesquisas, como a conduzida pelo Women’s Philanthropy Institute, na Indiana University Lilly Family School of Philanthropy, ou o “Brasil Giving 2021: Um retrato da doação no Brasil”, do Instituto de Desenvolvimento para o Investimento Social (IDIS).  

O crescente poder financeiro das mulheres, embora ainda seja desigual e injusto, vem representando para elas uma oportunidade de dar voz às questões com as quais se preocupam e contribuir para a transformação social.  Não que mulheres fazendo filantropia seja novidade. Mas, por muitas décadas, elas doavam dinheiro em nome de seus maridos ou o faziam sem amplo reconhecimento. 

Ao mesmo tempo, no terceiro setor, segundo estudo do IPEA, as mulheres são maioria e representam 65% das pessoas empregadas nas Organizações da Sociedade Civil (vale destacar que, com a cultura do patriarcado, certamente os homens ainda são maioria em posições de liderança, como em todos os setores da economia). Essas mulheres são empreendedoras sociais, líderes comunitárias e muitas trabalhadoras que estão assumindo riscos e inovando; que estão construindo um novo caminho no setor filantrópico dentro de suas respectivas causas ao enfrentar problemas históricos usando novas soluções.

São mulheres que muitas vezes vivem com a sobrecarga de jornadas triplas (casa, emprego e filhos), cuidando de suas famílias e ainda de tantas outras em situação de vulnerabilidade. Muitas delas provenientes de famílias pobres, buscando quebrar o ciclo de pobreza intergeracional. Fomentando ou buscando redes de apoio para buscar aprendizado contínuo, compartilhar conhecimento e gerar valor. Nomes? Tenho uma lista que não acaba!

Neste Dia Internacional da Mulher, eu gostaria de dizer que sinto tanto orgulho de ser mulher. Nunca foi uma jornada fácil, mas continuaremos buscando novas perspectivas para nos relacionar com o mundo e ajudar a garantir a redução das desigualdades e mais justiça para todas e todos.

Agradecimento escrito à mão: um abraço à distância no doador e na Equipe Phi

Há poucos dias, chegou um e-mail especial para o Instituto Phi. Virou o assunto do dia da equipe: era uma carta de duas laudas escrita à mão e escaneada. Coisa rara nos dias de hoje, o manuscrito era de Evelin Mello, fundadora e diretora da Digna Engenharia, startup que realiza pequenas reformas com preços acessíveis ou subsidiadas em moradias pobres de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Com uma letra caprichosa, ela escreveu de próprio punho um agradecimento ao doador que financia as obras da Digna para moradores em extrema vulnerabilidade social e à equipe do Phi.

A carta manuscrita por Evelin Melo de agradecimento ao doador e à Equipe Phi

A Digna nasceu em 2018 da capital sul-mato-grossense, fundada por Evelin, uma menina periférica, de baixa renda, mãe jovem, recém-formada e empreendedora. Neste mesmo ano, o negócio de impacto nascente foi selecionado, dentre 380 projetos, para ser um dos 15 acelerados pelo Lab Habitação da Artemisia, em São Paulo. Desses, três foram eleitos para receber “investimento semente ” e a Digna foi um deles.

Foi aí que o caminho da Digna e do Instituto Phi se cruzaram. No encerramento do Lab da Artemisia, estava a equipe Phi, em busca de projetos inovadores na área de habitação social para apresentar aos seus doadores. A Digna ganhou o apoio do Phi para o programa de reformas subsidiadas desde seu início.

Com a sua atuação, a Digna combate a insalubridade, promove saúde e amplia o acesso da população de baixa renda a reformas profissionais. Hoje, cinco anos depois de sua fundação, já foram reformados cômodos de 250 casas vulneráveis, 99 delas subsidiadas com o apoio de um único doador, anônimo, do Instituto Phi.

“Acho que as cartas, ao serem escritas de próprio punho, demonstram verdadeiramente nosso afeto. E eu sempre quis agradecer ao nosso doador, que eu só conheço com ‘Investidor 1’. Queria dizer o que ele significa para todos os moradores com quem ele contribuiu, como é quando chegamos na casa da pessoa beneficiada e contamos que a reforma dela será feita sem nenhum custo. Além disso, quando ele começou a doar o recurso, lá em 2018, foi a primeira pessoa que acreditou na Digna e em mim como empreendedora”, diz Evelin.

Um dos trechos da carta diz: “No ano de 2023, vamos celebrar 5 anos de apoio e só consigo falar o quanto somos gratos por todos esses anos. Sonhamos um dia abraçar cada pessoa da equipe do doador e do Instituto Phi, agradecer por fazerem parte da construção de uma ponte de transformação de vidas”.

Recentemente, nosso coordenador de projetos Marcello Stella esteve com Evelin em Campo Grande, visitando algumas das obras realizadas com apoio do Phi. Dentre elas, a de Dona Francisca e Seu Carlos, ambos idosos e com deficiência visual, conta ela:

“Eles fazem tudo sozinhos, limpam a casa. Porém, antes da reforma, o banheiro estava muito insalubre, com chão de lodo, e Dona Francisca caiu e se machucou. Tudo isso mexeu muito comigo. Como você vai mostrar para uma pessoa que não enxerga que estamos entregando não só um banheiro prático, com barra de acessibilidade, piso antiderrapante, mas também um banheiro bonito? Então, escolhemos para eles um revestimento de parede que tinha uma textura de flor. Quando eles passam a mão, sentem. Foi lindo quando fizemos a entrega da obra. O Marcello, do Phi, visitou a casa e não conseguiu conter a emoção com os agradecimentos deles. Foi legal que a equipe Phi pôde escutar o que eu escuto sempre”.

Uma carta escrita à mão carrega mesmo muito mais do que palavras. Receba você também, Evelin, nosso agradecimento por esse abraço afetuoso à distância.

Evelin com Dona Francisca e Seu Carlos, que tiveram o banheiro reformado
Marcello Stella, do Phi, com Evelin, em visita às obras da Digna Engenharia

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