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Banzeiro ÒKÒTÓ – Uma viagem à Amazônia centro do mundo

Livro de Eliane Brum

Sumário Executivo da Pesquisa – Pequenas ONGs e a captação via editais

Este documento apresenta os principais resultados de uma pesquisa quanti-quali realizada pela iniciativa PIPA em parceria com a Phomenta, entre março e julho de 2023. A investigação foi realizada com o propósito de dar visibilidade as principais dificuldades enfrentadas pelas pequenas organizações da sociedade civil (OSCs e ONGs) na hora de captar recursos via editais.

Relatorio PIPA – Periferias e Filantropia 

A iniciativa PIPA, em parceria com o Instituto Nu, propões a pesquisa `Periferias e Filantropia – As barreiras de acesso aos recursos no Brasil´. Para apresentar ao setor a realidade financeira e cotidiana das organizações de periferias no Brasil. Visando ser uma pesquisa que poderá auxiliar o Investimento Social Privado e a Filantropia a criar soluções que ampliem o impacto da alocação de recursos no país.

Geração Z: uma centelha de esperança?

A despeito das incertezas econômicas, brasileiros de todas as gerações, gêneros, regiões do país e graus de escolaridade contribuíram no ano passado para as causas importantes para eles. Foi o que mostrou a Pesquisa Doação Brasil 2022, coordenada pelo Instituto de Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), com apoio de muitos parceiros, dentre eles, o Instituto Phi. Mas, o estudo revela ainda que, à medida que o setor filantrópico se transforma e diversas vozes exigem um lugar à mesa, um grupo se destaca no caminho: a Geração Z.

Categorizados como “nativos digitais” ou pessoas que têm pouca ou nenhuma memória de um mundo sem tecnologia de smartphones, a Geração Z é formada pelos nascidos entre 1995 e 2010, o que significa que os mais velhos têm cerca de 28 anos e os mais novos ainda estão no ensino fundamental.

Com eles, a internet uniu as diversas vozes com uma velocidade e eficiência que o setor nunca experimentou antes. Eles usam plataformas como Instagram, TikTok e Twitter para divulgar causas que lhes interessam e mobilizar apoio para elas. Têm, portanto, o maior potencial de influenciar a consolidação da cultura de doação no País.

Na hora de doar – neste caso, os maiores de 18 anos –, são atraídos por projetos que se alinham com os seus valores, e muitas vezes estão dispostos a apostar em soluções nascentes e inovadoras para questões sociais e ambientais. A Geração Z é mais diversificada que qualquer geração anterior, e parece estar no caminho que nós, do Instituto Phi, estamos sempre apontando: eles doam porque sentem que sua doação, mesmo pequena, faz diferença.

Eles também estão certos de que as empresas são organismos poderosos, que devem usar seu potencial para gerar valor para as comunidades em que estão presentes.

Ter dados consistentes sobre a doação feita pelos cidadãos comuns já é um bom motivo para se comemorar. Saber que 84% dos brasileiros acima de 18 anos e com rendimento superior a um salário-mínimo fizeram ao menos uma doação em 2022, seja de dinheiro, bens ou trabalho voluntário, é mais ainda.

Além disso, em 2022, a mediana dos valores doados ao longo do ano foi R$ 300, um aumento de 50% em relação a 2020.

Nem tudo são flores e a pesquisa de 2022 indica um aumento da doação institucional entre a população de renda mais baixa (famílias que ganham até dois salários-mínimos), porém, uma queda entre famílias com renda superior a seis salários-mínimos. Além disso, as pessoas menos escolarizados retomam com mais força as doações entre 2020 e 2022 – durante e após a pandemia, portanto –, enquanto há queda nos níveis de doação das pessoas com níveis de escolaridade mais altos.

Outra notícia que recebemos com tristeza é a de que, depois de uma melhora significativa da opinião da população sobre as organizações da sociedade civil, registrada na pesquisa de 2020, o novo levantamento mostra um certo retrocesso nas questões relativas à confiança.

Não é uma balança equilibrada, mas é para isso que estamos trabalhando: para a construção de um país mais solidário, o que passa pela mobilização, bastante articulada, de todos os setores da economia. O desafio está em encontrar e construir modelos que são capazes de conectar a cultura de doação com cada um dos brasileiros.

O poder do ‘nós’: a formação de redes como capital filantrópico central

Há algum tempo, as pesquisas em ciências sociais e humanidades têm deixado de pensar o capital somente do seu ponto de vista econômico e financeiro. São diversos os autores e correntes que passaram a indicar que existem diversos capitais que podem ser incorporados pelas pessoas, com variações sobre seu valor, a depender do contexto em que o indivíduo se encontra. Assim, capitais culturais, sociais e simbólicos (notoriedade e fama, por exemplo) mudam de significado, valor e sentido, de acordo com o lugar e o período histórico em que se vive. Em algumas sociedades, um diploma de médico pode ser mais ou menos valorizado, determinado traço de beleza pode ser mais ou menos atraente etc. 

Isso não se trata apenas de uma curiosidade, pois as diferentes valências dos capitais que uma pessoa herda ou adquire ao longo da vida sempre mediram as oportunidades e possibilidades deste indivíduo, nas mais variadas esferas da sua trajetória (escolar, profissional, emocional etc). Mas não são somente os capitais mencionados podem afetar os caminhos e percursos possíveis de uma determinada pessoa: a rede de laços sociais que ela constrói ou herda é extremamente relevante, pois como sugere Marques (2009): “as redes de um indivíduo medeiam o acesso dos indivíduos a estruturas de oportunidades.” 

Em seu estudo sobre redes sociais e pobreza urbana, o autor procura identificar se as redes de relacionamento das pessoas fazem diferença em termos de ascensão social e acesso a oportunidades. A ideia do autor é pensar a pobreza de maneira multidimensional, e não apenas olhando para os dados econômicos rotineiramente avaliados, como renda, ocupação e bens. Ou seja, sua visão é de que somente aspectos econômicos são insuficientes para se compreender o fenômeno da pobreza, pois tendem a descontextualizar o indivíduo, tratando-o como uma espécie de átomo isolado e que se encontra em situação de vulnerabilidade por comportamentos ou decisões individuais equivocadas. 

Ao olhar para o conjunto de relações sociais que indivíduos em diferentes situações de pobreza se encontravam em comparação a outros indivíduos de classe média, o autor notou o seguinte cenário: “e, quando comparadas com as redes de classe média, as redes pessoais de indivíduos pobres tendem a ser menores, mais locais e menos variadas em termos de sociabilidade.” (Marques, 2009, p. 480). 

Essa rede menor, mais local e menos diversificada dos pobres em relação à da classe média tendia a torná-los menos hábeis em mobilizar ajudas sociais através de seus contatos, pois possuíam poucos vínculos, normalmente de pessoas da sua mesma região, que não tinham acesso igualmente a serviços públicos e outras oportunidades sociais, e por consequência menos chances de conhecer alguém que pudesse oferecer um caminho para mudar sua situação ou lhe desse um impulso para alargar seus laços. 

Apesar de não existir um estudo específico sobre organizações sociais e suas redes de

vínculos, podemos pensar que o mesmo princípio que se aplica a indivíduos poderia se aplicar às OSCs. Menos conhecimentos de atores diversificados do ecossistema filantrópico, em termos de território e posições sociais, pode deixar uma organização mais isolada e com menores chances de acesso a oportunidades em relação a outras, com abundância de vínculos, para os quais os diversos tipos de capitais chegam facilmente. 

Neste quesito, o fortalecimento e a participação em fóruns, conselhos e programas de fellows, entre outros, são muito relevantes, pois podem ir gerando aos poucos um capital social relacional que, no curto, médio e longo prazo, poderão significar acesso a oportunidades de financiamento, capacitação e conexão com novos doadores e públicos, que são potenciais agentes de consolidação e fortalecimento institucional da OSC. 

A organização alimentando uma rede ampla, territorialmente diversa e com acesso a diferentes formas de sociabilidades (empresas, grandes doadores, micro doadores, comunidade local, outras organizações sociais, fundações, consultorias, intermediários) tem potencialmente mais chances de ampliar sua estrutura de oportunidades, podendo acessar espaços, recursos e pessoas que, em um primeiro momento de isolamento, julgava inacessíveis. 

Dessa maneira, o impacto gerado pelas organizações não é alcançado somente por meio de recursos financeiros ou conhecimento interno. Elas dependem significativamente de um recurso intangível e poderoso conhecido como capital social, que é construído a partir de suas redes e relacionamentos com outros atores em seu ecossistema. 

O capital social não se limita apenas ao aspecto financeiro, mas abrange uma rica rede de conexões interpessoais, confiança mútua e valores compartilhados. É um ativo valioso que influencia diretamente na capacidade de uma organização social enfrentar desafios complexos e alcançar a sustentabilidade. 

As redes de relacionamento são o alicerce desse capital social. Elas são formadas através de uma variedade de interações, como eventos, cursos, workshops, visitas institucionais e, essencialmente, pelo compartilhamento de informações e conhecimento. Nestes ambientes, os valores e expectativas comuns emergem, fornecendo a base para parcerias estratégicas e para a distribuição eficiente de recursos disponíveis no ecossistema. 

No entanto, é vital enfatizar que apenas a participação passiva em redes não é suficiente para superar as limitações das organizações sociais. O simples ato de conexão não garante que elas alcancem seus objetivos. É necessário ir além e estabelecer ligações eficazes e estratégicas com outras entidades do setor que compartilham causas semelhantes. 

Além disso, a sustentabilidade vai além da captação de recursos financeiros. É também uma questão de flexibilidade e adaptação às mudanças no ambiente. As organizações sociais que funcionam em redes de troca de conhecimento se mostram mais flexíveis e dinâmicas, permitindo que se ajustem rapidamente às novas questões sociais em constante evolução. 

Um elemento crucial no fortalecimento das redes e no desenvolvimento do capital social é a confiança. Esta é uma moeda valiosa que se acumula ao longo do tempo por meio de relacionamentos sólidos e pela abertura e presença contínua no ecossistema. A confiança é um fator-chave que impulsiona a colaboração entre os diversos atores do ambiente e, muitas vezes, é conquistada com base em critérios sociais, culturais e históricos compartilhados. 

Quando se fala em escolhas estratégicas, pensamos em definir bem os objetivos que a organização almeja alcançar e qual seu perfil de cultura interna, além de sua causa social, pois a depender desses e de outros fatores conexões com famílias, indivíduos, grandes empresas, organizações internacionais, podem fazer mais ou menos sentido. Para construir confiança é necessário demonstrar transparência sobre sua estrutura de governança e movimentação financeira, bem como sobre os resultados que se vêm obtendo a partir de suas ações e aproximar-se da comunidade a qual está vinculada. 

Em resumo, o capital social e as redes de relacionamento desempenham um papel fundamental na capacidade das organizações sociais de enfrentar desafios e causas sociais. Ir além da mera conexão e estabelecer parcerias estratégicas, adaptar-se às mudanças e construir confiança são elementos essenciais para a sustentabilidade e o impacto positivo dessas organizações no desenvolvimento e inclusão social em comunidades vulneráveis. 

MARQUES, E. C. L.. As redes sociais importam para a pobreza urbana?. Dados, v. 52, n. 2, p. 471–505, jun. 2009. 

MARTELETO, Regina; SILVA, Antônio. Redes e capital social: o enfoque da informação para o desenvolvimento local. Ci. Inf., Brasília, v. 33, n. 3, p.41-49, set./dez. 2004. 

Por: Marcello Stella e Carolina Carvalho

Boletim Phi: Precisamos ativar todo o potencial da maior geração de jovens do país

Você sabia que temos no Brasil nossa última oportunidade de crescimento com a inclusão de jovens no mercado de trabalho? É o que chamamos de bônus demográfico: até o fim do século, a população brasileira em idade de trabalhar será muito reduzida. Se apoiamos o pleno desenvolvimento destes jovens em seus territórios, temos potencial!

Mas quais os desafios que os jovens de hoje enfrentam e como o Instituto Phi está atuando para fortalecer as juventudes? Vem aqui no Boletim Phi para saber!

Do estigma contra pessoas egressas à inclusão social e produtiva

As perspectivas de futuro de Alene dos Santos, hoje com 31 anos, mudaram totalmente quando conheceu e começou a fazer parte da Cooperativa Social Cuxá, que produz e vende artigos bordados, tais como bolsas, toalhas e nécessaires. Alene é egressa do sistema prisional de São Luiz (MA) e passou a integrar a Cuxá – uma  iniciativa do Instituto Humanitas360 em parceria com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o Governo do Maranhão – quando estava na prisão.  Depois de progredir para o regime aberto e com o apoio do Humanitas360, Alene desde maio trabalha vendendo os produtos da cooperativa na Oficina & Loja Tereza.

O projeto da Cooperativa Cuxá oferece a mulheres presas e egressas do sistema prisional aulas de corte e costura, crochê e outros segmentos, para que possam empreender, após cumprirem o processo de ressocialização. A renda dos produtos comercializados são repassados integralmente às trabalhadoras. 

Já a Tereza é um negócio social que comercializa produtos de cooperativas de pessoas presas. Desde a abertura da Loja em São Luiz, em maio de 2023, Alene trabalha no espaço, desenvolvendo competências de atendimento a clientes, habilidades administrativas e outros aspectos de gestão de um comércio. Também por meio do Humanitas360, ela conta com o apoio de uma assistente social, acompanhamento psicológico e jurídico.

Alene conta que está muito feliz com as oportunidades às quais têm tido acesso, percebendo-as como parte importante da sua retomada da vida em liberdade e evolução pessoal e profissional. Para ela, a vida não poderia ter lhe dado um caminho melhor para seu recomeço após o cárcere. Os sonhos, agora, são trazer os dois filhos, de 7 e 8 anos, para morar com ela, e cursar a faculdade de direito.

“Antes de ser presa, eu trabalhava como feirante, vendendo frutas. Não sabia nada sobre costura. Mas peguei essa oportunidade e tive muita força de vontade. Aprendi a costurar, aprendi a fazer crochês e bordados, produzindo bolsas e sacolas. Depois, fiz cursos de informática, tudo com o apoio da Humanitas. Com o primeiro salário, aluguei um quarto num condomínio. Quero que meus filhos tenham orgulho de mim”.

As pessoas egressas sofrem diferentes tipos de discriminação, que restringem ou anulam o reconhecimento e o exercício de direitos humanos. Entre os impactos que o estigma pode causar, destacam-se a dificuldade de obter emprego e renda. O Instituto Humanitas360 é apoiado pelo Instituto Phi.

Um projeto para pares, liderado por pares: conheça a Capacitrans

Há mais de duas décadas, a cabelereira, maquiadora e empreendedora Andrea Brazil decidiu tornar possível às pessoas trans, travestis, não binárias LGBIQAP+  ter uma vida mais longa e com melhores oportunidades de trabalho. Ela percebeu que o empreendedorismo seria a peça-chave para alcançar esse objetivo e fundou, em 2018, a Capacitans, uma organização social que atua na formação empreendedora deste público em situação de vulnerabilidade.

Através das capacitações, em áreas como Gastronomia, Moda, Audiovisual e Obras e Reparos, dentre outras, o projeto identifica talentos e os encaminha empresas e instituições parceiras, com verdadeiras políticas de inclusão social. Em 4 anos e meio, mais de 300 pessoas já foram capacitadas e pelo menos 20% conseguiu uma colocação no mercado ou alavancar seus micro empreendimentos.

Além disso, mais de 10 já voltaram como facilitadores remunerados em projetos diversos da Capacitrans, conta Andrea:

“Começamos com moda e imagem, pois sou cabeleireira e maquiadora de formação. Mas vencemos editais e ampliamos para audiovisual, gastronomia e, atualmente, temos a primeira turma de Obras e Reparos. Hoje sou Consultora de Diversidade e Inclusão para várias empresas, fazendo pontes para nosses alunes mais dedicades que se destacam. Fazemos pontes até para quem está em situação de rua. Nosso foco é o resgate de cidadanias, ocupando todos os espaços de direitos antes nos negados”.

Lorranny Barbosa, de 30 anos, moradora do Jacarezinho, foi aluna da primeira turma de Transmulheridades na Moda. Não sabia como colocar uma agulha numa máquina de costura. Antes, trabalhou em restaurante, como cabeleireira, maquiadora e garota de programa. Hoje, tem sua própria marca de biquinis e é facilitadora da Capacitrans.

“O meu primeiro biquíni ficou horroroso, mas só de ter feito a minha primeira peça, fiquei realizada. Com o tempo fui estudando, até que veio a pandemia e o projeto Máscaras do Bem. Fomos remuneradas para produzi-las e, assim, tive a oportunidade de comprar minha primeira overlock. Daí já comecei a ter mais perfeição nos acabamentos. Com muito esforço e dedicação, dias e noites perturbando as professoras, consegui desenvolver meu próprio molde. Com minhas vendas , pude conquistar todo o maquinário necessário para a fabricação de excelentes biquínis”, orgulha-se Lorranny.

Localizada em Santa Teresa, a organização atende alunas e alunos de diversas regiões do Rio de Janeiro como Baixada, Niterói, Zonas Norte, Oeste e Sul, além de comunidades adjacentes, como Maré, Complexo do Alemão e Manguinhos. Um projeto para pares, liderado por pares – onde se reconhecem e recebem acolhimento.

Mulher e empreendedora: conheça o projeto do Programa Social Sim Eu Sou do Meio, na Baixada Fluminense


Mulher negra retinta, mãe solo, e periférica. Com o perfil de pessoas que mais sofrem com a desigualdade social e as diversas camadas de violências, Rosilanine é uma das participantes do projeto “Sou Empreendedora, Sou Mulher”, realizado pelo Programa Social Sim Eu Sou do Meio, em Belford Roxo (RJ). Ela vende empadinhas em uma carrocinha na Praça do Município para manter-se com seu filho Miguel, de 7 anos.

O projeto oferece capacitação profissional e inclusão produtiva em gastronomia para mulheres cis e trans de Belford Roxo, município com o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da Baixada Fluminense. Nesta primeira turma, apoiada pelo Instituto Phi, são beneficiadas 200 mulheres.

As alunas têm aulas sobre boas práticas no serviço de alimentação, noções de precificação do produto, vendas, apresentação do produto, além das aulas práticas na cozinha, com foco em produtos vendáveis e que atendam uma necessidade do público-alvo.

Além disso, o programa tem em seu escopo noções de educação financeira para potencializar negócios, com certificado emitido em parceria com o Sebrae, e educação socioemocional voltadas ao autoconhecimento e quebra de crenças limitantes. A frequência é determinante para recebimento do certificado e participação nas feiras coletivas.

“Eu já fiz outros cursos na área de panificação, mas esse foi diferente, porque não aprendemos apenas a pôr a mão na massa, mas nos conhecemos melhor com cada aula. Eu nunca tinha aprendido sobre inteligência emocional, um ensinamento muito importante para que eu me enxergue como uma pessoa capaz de conseguir alcançar meus objetivos”, diz Rosilaine.

Juventudes são potências e precisam ser vistas como tal: conheça o Global Opportunity Youth Network (GOYN)

Temos uma população de jovens-potência que vem sendo “desperdiçada”. Eles possuem capacidade para se desenvolver, mas não conseguem acessar boas oportunidades. Têm sonhos, porém, há pouca escuta ativa para torná-los factíveis frente à dura realidade que enfrentam. É deste princípio que parte o Juventudes Potentes – Global Opportunity Youth Network (GOYN), uma grande aliança para promover a inclusão produtiva de jovens na cidade de São Paulo.

No Brasil, a ação é articulada pela United Way Brasil e apoiada pelo Instituto Coca-Cola Brasil, com gestão do Instituto Phi. O público-alvo do GOYN são os “jovens potência”: jovens de 15 a 29 anos, em situação de vulnerabilidade econômica, que estão fora da escola ou não conseguem emprego.

As taxas de desemprego para essa faixa, em São Paulo, giram em torno de 35%, quase o dobro quando comparadas com o restante da população da cidade. Além disso, esse jovem encara desafios centrais, como o racismo estrutural, a evasão escolar e a lacuna digital.

O GOYN atua em várias frentes: ampliando competências para as profissões do futuro; alinhando oferta e demanda de empregos, em parceria com uma rede de empresas; conduzindo esforços para a adoção de práticas mais inclusivas para o perfil dos jovens potência e realizando estudos e pesquisas.

No momento, está em andamento o Fundo Territórios Transformadores, em que 17 organizações sociais das Zonas Sul e Leste de São Paulo recebem subsídio financeiro para desenvolverem projetos de formação para as profissões de futuro, além de acesso a conhecimento e a uma rede de conexões.

Outras novidades são a aprovação do GOYN na Câmara dos Vereadores de São Paulo, passando a participar das votações sobre uso de recursos públicos para projetos de juventudes e a realização do primeiro “Feirão de Oportunidades” de 2023 na Zona Sul de São Paulo – ao todo, 15 organizações estiveram presentes oferecendo vagas e cerca de 600 jovens se inscreveram.

Transformação na trajetória de jovens com capacitação na área tech: conheça a Generation Brasil

Depois que o pequeno salão de beleza onde trabalhava como cabeleireira autônoma fechou as portas na pandemia, Tamires Guimarães se viu sem perspectivas. Mãe de uma criança e com apenas o Ensino Médio, Tamires enxergou uma oportunidade no setor de tecnologia, apesar da baixa representatividade de mulheres pretas neste mercado. Ela fez a formação da Associação Generation Brasil, organização apoiada pelo Coca Cola Foundation e Instituto Coca-Cola Brasil, com gestão do Instituto Phi, e se tornou desenvolvedora Java em 2021. Hoje, é analista de sistemas na Alelo, empresa de serviços financeiros. No Brasil, a média salarial de um analista de sistemas é de R$ 5.116, segundo o site Vagas.com.

No projeto de capacitação e inserção profissional na área tech, que está sendo oferecido este ano no Rio de Janeiro, os jovens são treinados no bootcamp de Desenvolvimento Java Full Stack (440h), uma formação que combina o desenvolvimento de hard skills, soft skills e mentalidades orientadas ao crescimento. O curso é remoto e gratuito para os participantes, com duração de 12 semanas.

Durante a formação, os alunos mais vulneráveis recebem suporte psicossocial e auxílio-alimentação, além de notebook e internet para mitigar os riscos de evasão ou baixo aproveitamento dos alunos. Os programas também trazem a mentoria como apoio complementar à colocação profissional.

A Generation pré-identifica vagas e formaliza parceria com empresas, que se comprometem a participar de atividades durante a formação para acelerar o processo de inserção no mercado.  Ao final do curso, os jovens são conectados com grandes empresas do mercado de trabalho tech e apresentam projetos para potenciais empregadores.

“A tecnologia veio como uma luz, em meio a um turbilhão de mudanças que a pandemia trouxe. A programação foi encanto à primeira vista e pude desmistificar o mundo da tecnologia como um ambiente no qual eu não me encaixava”, diz Tamires.

Formação integral na infância por um futuro melhor

No sítio de 84 mil m², a 15km do centro do município de Porto Feliz (SP), o Coordenador Administrativo da Associação Monte Carmelo (AMC),  Lucas Moura, de 29 anos, circula entre as 90 crianças matriculadas na organização não-governamental. Ele enxerga um belo futuro para elas, porque já foi uma delas. Foi frequentando as oficinas de virtudes, literatura e jogos cooperativos, as atividades culturais de teatro, coral e timbalata, as aulas na sala de informática e o plantio na horta, que ele pôde descobrir seus talentos. Ali, teve início o sonho de fazer parte daquele trabalho.

Lucas entrou na AMC em 2002, com 7 anos de idade. Seus pais trabalhavam muito – o pai, como padeiro, e a mãe, em casas de família e como manicure – e buscaram um espaço de atividades de contraturno escolar para os três filhos. Contrariando as estatísticas que indicam baixa probabilidade de filhos de pais que não têm diploma alcançarem a formação superior, Lucas é formado em Pedagogia e pós-graduado em Psicopedagogia Institucional. Há 8 meses, é casado com Agnes, psicóloga clínica.

A Associação Monte Carmelo atua dentro dos princípios da Fé Baha´í – que tem como base a paz mundial e a eliminação de todas as formas de preconceito – para a formação da criança e do adolescente, apoiando suas famílias e em parceria com as escolas. Assim, Lucas conta que conheceu as “virtudes humanas”, qualidades que já existem dentro do coração do homem, mas que muitas vezes precisam ser lapidadas, como respeito, responsabilidade, cortesia, justiça, bondade, cooperação e gratidão.​

Confira o depoimento de Lucas sobre a sua trajetória na organização, que atualmente é apoiada pelo Instituto Phi:

“Sempre participei das aulas bahá’ís para crianças e, mais tarde, dos grupos de pré-jovens. Realizei muitos atos de serviço, participei de várias apresentações culturais e até fui conhecer o mar, na cidade de Santos, com a AMC.

Em 2009, completei 14 anos e tive meu último ano como aluno na instituição. Mas, em 2012, quando estava cursando o 3º ano do Ensino Médio, fui convidado para ser estagiário da sala de informática. Ao me formar, em 2013, fui convidado para integrar o quadro de funcionários, sendo contratado pelo regime CLT como monitor de ônibus.

Em 2014 e 2015, cursando a graduação em Pedagogia, atuei como educador de pré-jovens e tive a oportunidade de acompanhá-los até o litoral, compartilhando a experiência de visitar a mesma praia que tinha conhecido através da AMC no ano de 2008. Foi incrível! De 2016 a 2019, fui auxiliar da Coordenadora Pedagógica, que inclusive foi minha professora na AMC logo que fui matriculado. E, em 2020, fui convidado para ser Coordenador Administrativo, meu cargo atual.​

A AMC sempre me incentivou a estudar. Concluí a graduação em dezembro de 2015 – trabalhava de dia na AMC e ia para a faculdade à noite, na cidade vizinha – e, no início de 2016, resolvi cursar pós-graduação em Psicopedagogia Institucional.

Acredito que muitos outros ‘Lucas’ possam ter esta mesma oportunidade que estou tendo até hoje. São 34 anos que a AMC planta sementes na comunidade de Porto Feliz, e, com a contribuição de apoiadores e patrocinadores, esses frutos podem ser colhidos. Posso dizer que sou fruto deste lindo trabalho!”.

As atividades da  Associação Monte Carmelo são voltadas a crianças e adolescentes de 6 a 14 anos. O ônibus da AMC percorre a cidade recolhendo as crianças em 9 escolas da rede municipal de ensino para o contraturno escolar na AMC.

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