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Enfrentamento ao racismo: como a História explica o Brasil de hoje

Entrevista com Tiago Rogero

Foto: Leo Martins / Divulgação

Qualquer projeto ou articulação para um Brasil melhor, tema central deste Boletim Phi, exige o firme e real compromisso de enfrentamento ao racismo e fortalecimento da equidade racial. Conversamos com o jornalista Tiago Rogero, criador do Projeto Querino, podcast narrativo e série de reportagens na revista Piauí que aborda a contribuição da população negra na formação do Brasil e como a História explica o Brasil de hoje. Confira:

Como a História explica o Brasil de hoje e como ela impacta no desenvolvimento da democracia?

Esse é quase um bordão que usamos no projeto, porque a gente consegue achar explicação para boa parte dos problemas do Brasil com um olhar mais apurado, complexo e diverso sobre o passado. A versão oficial da História, branca, masculina e europeia, não dá conta de explicar por que o país tem mais de 30 milhões de pessoas passando fome, por que tem uma categoria majoritária da sociedade que é tratada até hoje como minoria. Os movimentos negros vêm contando versões mais completas da História e batendo na tecla de que, enquanto houver racismo, não haverá uma democracia de fato, em que todas as pessoas sejam partícipes da sociedade.

Sucesso nas plataformas de áudio, o podcast Projeto Querino ultrapassou 1 milhão de downloads. Como você avalia essa receptividade?

Eu confesso que fico surpreso. Não pela qualidade, porque ele foi feito com muito cuidado, foram 2 anos e 8 meses de muito trabalho para lançar, com uma equipe de mais de 40 pessoas. Mas me surpreendeu porque o Brasil é um país racista e, embora as pessoas negras sejam mais da metade da população, reina no país a mais bem contada mentira de todas, que é o mito da democracia racial. Então, eu tinha receio de que mesmo pessoas negras não fossem ouvir por acreditar que fosse ‘mimimi’.

Desde que você criou o seu primeiro podcast com uma visão afrocentrada, o Negra Voz, quais foram os pontos mais importantes que passaram a figurar na pauta racial?

Um elemento catalisador importante na pauta racial é o assassinato do George Floyd, em 2020. Mortes como a dele acontecem no Brasil mensalmente, semanalmente, e não geram esse tipo de comoção. A dele, por ter sido nos Estados Unidos, e também num contexto de pandemia, com a mobilização de muitos artistas americanos – e a gente aqui no Brasil consome muito essa cultura – ganhou grande atenção também da imprensa brasileira que, a partir daí, passa a dar atenção para esse tipo de morte.

O conteúdo do Projeto Querino tem sido usado nas salas de aula. Qual o papel das escolas para a desconstrução do racismo?

É vital, porque no Brasil o ambiente escolar é geralmente onde as crianças negras se percebem negras, por meio de uma experiência traumática. Por isso, é tão importante a aplicação da Lei 10.639, que obriga as escolas a ensinarem sobre história e cultura afro-brasileira. Mas não só a aplicação da lei, como também a capacitação dos professores, para que estejam preparados para lidar com situações de racismo na escola, e para que não sejam eles mesmos os perpetuadores do racismo.

O nome do podcast é uma homenagem a Manuel Raimundo Querino, intelectual negro considerado o primeiro historiador da arte baiana.

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