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O caminho de Samuel para aprender a programar

Samuel Fontineli, 29 anos, é de Sobral, interior do Ceará. Tem mulher e uma filha de menos de um ano. Reproduzindo a tradição secular da migração de populações nordestinas para o Sudeste, ele deixou sua cidade natal em busca de melhores oportunidades. Mesmo sem ter tido acesso a cursos de formação em tecnologia, Samuel hoje realiza o sonho de estudar para ser um engenheiro de software e ingressar neste inovador mercado. Ele conquistou uma vaga no Instituto 42Rio, programa de formação de profissionais gratuito, apoiado pelo Instituto Phi.

Com dois campi no Brasil, no Rio e em São Paulo, a proposta do instituto que faz parte de uma rede global é oferecer uma educação democrática: basta ter a partir de 18 anos e saber usar um mouse e um teclado. O aluno não precisa ter conhecimento prévio de programação, nem ter diploma de qualquer nível de ensino. Os candidatos passam por um processo de seleção que valoriza saberes não necessariamente revelados através dos métodos tradicionais. Dos aprovados, 47% têm renda familiar de até três salários-mínimos:

“O nosso processo seletivo dá conta de um eventual gap de conhecimentos. O Basecamp, terceira e última etapa, é uma imersão de 28 dias na qual o aluno que não conhece programação aprende o básico; 77% dos nossos alunos nunca tinham trabalhado com tecnologia”, explica Ana Cristina Maia, diretora executiva da 42.

Samuel, que sempre gostou de tecnologia, conheceu a 42 através de um youtuber que seguia. Em 2020, ele se candidatou a uma vaga no campus de São Paulo. Mas veio a pandemia de Covid, o processo seletivo ficou parado por um tempo e, na urgência de transformar sua própria vida, vendeu o que tinha e decidiu ir para Belo Horizonte (MG).

“Enquanto distribuía currículos, morei na rua, tomei banho em fontes públicas, me alimentei de doações. Para não carregar a mochila com meus livros de programação durante o dia todo, escondia os volumes, envoltos num saco plástico, dentro do esgoto”.

Samuel acabou conseguindo emprego, mas não na área que queria. Trabalhou com descarga de mercadorias, depois num supermercado. Em 2021, decidiu voltar para o Ceará. Reatou com a mulher, Jéssica, que ficou grávida de Ashley, quando foi convocado para a última etapa da seleção da 42 São Paulo: Samuel não passou.

Mas desistir não estava nos planos do rapaz. No início de 2022, abriu o processo seletivo para o novo campus, do Rio de Janeiro, e ele se candidatou novamente. Com sua força de vontade e resiliência, desta vez, foi aprovado em todas as etapas.

“No Basecamp, que foi online por causa da pandemia, eu estudava das 5h da manhã às 8h da noite. Eu entrava em algumas lives com minha filha dormindo ao lado, então tentava falar baixinho. Quando era depois de meia-noite, só podia falar por texto para não acordar a Ashley, ainda bem que o pessoal era bem compreensivo”, diverte-se Samuel. “Cheguei ao fim com a sensação de que aquele, sim, era o Basecamp que eu precisava ter feito”.

Na 42, a aprendizagem se baseia no modelo peer-to-peer, o que significa que não tem aula nem professor: os alunos devem trabalhar em grupo para avançar nos projetos que são propostos, agindo como instrutores e aprendizes. O campus funciona 24 horas por dia, nos sete dias da semana, e o programa dura em média três anos, dependendo do empenho e dedicação de cada aluno.

Como Samuel não tinha como se sustentar no Rio de Janeiro, ele conseguiu uma bolsa da 42. O aluno mora num pensionato, se dedica integralmente ao programa e quer se especializar em segurança da informação. Aí, ele parte para a próxima etapa do sonho: conseguir um emprego e uma moradia para trazer Jéssica e Ashley do Ceará.

“Ficar distante de minha família é difícil, mas eu e minha mulher encaramos como uma oportunidade. Onde eu vivia não tinha saúde, educação, lazer de qualidade. Queremos uma vida diferente para nossa filha”, diz ele.

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