Tatá da Horta, como é carinhosamente conhecida, se chama Taylaine. Aos 28 anos, carrega um legado ancestral profundo, tecido pelos saberes populares e tradicionais que atravessam gerações em sua família. Sua avó era rezadeira, seu avô, erveiro — mestres da cura e do cuidado, guardiões do conhecimento da floresta. Com eles, Tatá aprendeu desde cedo a respeitar a natureza e a buscar na mata a medicina que fortalece o corpo e o espírito.
Criada na favela do Salgueiro, na Zona Norte do Rio de Janeiro, cercada pela grandiosa Floresta da Tijuca, sua infância foi marcada por descobertas e encantamentos. Brincava entre árvores, colhia frutas e, onde encontrava terra fértil, plantava sementes com a esperança silenciosa de ver o mundo florescer. Mais do que simples brincadeiras, essas vivências eram lições de conexão, pertencimento e amor à terra.
Com o tempo, Tatá compreendeu que aquele vínculo com a natureza era mais do que uma herança — era uma missão. Na vida adulta, sentiu que era hora de compartilhar os saberes que havia recebido. O curso de Agroecologia e Segurança Alimentar, realizado no Quilombo Aquilah, na Zona Oeste do Rio, com apoio do Instituto Phi, foi o ponto de virada: ali, pela primeira vez, pôde atuar profissionalmente com aquilo que pulsava dentro dela desde a infância.
Hoje, Tatá dedica sua vida a projetos que transformam a relação entre pessoas e natureza. No projeto Arte, Horta e Cia, desenvolvido no Museu Bispo do Rosário, na Colônia Juliano Moreira, ela cultiva mais do que plantas — cultiva consciência, saúde e ancestralidade. Também integra o Horta Ancestral, no Quilombo Aquilah, uma iniciativa que amplia ainda mais o alcance dos saberes medicinais, resgatando o uso das ervas e promovendo a cura por meio da terra. O Museu Bispo do Rosário também conta com o apoio do Instituto Phi.
Cada vez que suas mãos tocam o solo, Tatá sente uma energia que as palavras não alcançam. Plantar, cuidar, colher: para ela, esse ciclo é uma oração silenciosa, uma forma de semear um futuro mais saudável, justo e esperançoso para sua comunidade.
Por meio de seu trabalho e de sua presença, Tatá da Horta inspira. Mostra que é possível transformar histórias, preservar memórias e criar novos caminhos a partir daquilo que é mais antigo: a sabedoria da natureza. E segue firme na missão de partilhar, com generosidade, tudo o que aprendeu — para que cada vez mais pessoas redescubram a beleza e a força que brotam da terra.
Às margens do Rio Pirarara, Dona Socorro e cerca de 30 artesãs produzem chapéus, pulseiras, brincos, garrafas, potes encapados, mantos de santos, móbiles, bolas de Natal e guirlandas. Tudo feito com uma técnica ancestral, passada de geração em geração e que hoje movimenta a economia de São Sebastião da Boa Vista, na Ilha de Marajó, Pará.
Maria do Socorro Gomes Ferreira coordena, há quase 30 anos, o coletivo Arte em Fibra de Jupati. Criado oficialmente em 2015 com apoio do Ministério da Cultura (MinC), o grupo produz artesanato marajoara a partir da extração sustentável da fibra do jupati, retirada da palmeira Jupatizeiro (Raphia taedigera), nativa da região.
Desde o início, Socorro sempre acreditou no potencial do coletivo, apesar das dificuldades enfrentadas: falta de investimentos, ausência de infraestrutura e, mais recentemente, os desafios trazidos pela pandemia, que afetaram profundamente as artesãs e suas famílias.
O município, cercado por uma beleza natural exuberante e uma cultura rica, tem uma população vulnerável, com um IDH de 0,558 (IBGE). Muitas mulheres vivem em situação de carência e até violência doméstica. O trabalho artesanal gera renda e fortalece laços entre gerações.
“Hoje temos cerca de 30 artesãs, muitas formadas em oficinas que nós mesmas realizamos. Nossa missão é preservar a cultura ancestral e gerar renda para mulheres ribeirinhas, tanto com a venda do artesanato tradicional quanto com novos produtos desenvolvidos em parceria com designers e organizações como o Sebrae-PA”, explica Socorro.
Em 2019, quando o coletivo enfrentava um período de estagnação, a comunicadora Luciane Fiúza começou a divulgar os produtos do grupo, e as encomendas voltaram a crescer. Durante a pandemia, um pedido de 1.600 pulseiras trouxe novo fôlego. Mas foi no final de 2022, com o Edital 2023/2024 do Futuro Bem Maior, apoiado pelo Instituto Phi, que a realidade do coletivo começou a mudar significativamente.
A partir de 2024, as artesãs iniciaram a construção do tão sonhado ateliê, com um projeto arquitetônico desenvolvido por um parceiro. Agora, com a aprovação no Edital 2025 do Futuro Bem Maior, elas têm um plano ainda mais ambicioso: adquiriram o terreno ao lado, vão construir um barracão, cercar a área para protegê-la da entrada de animais e planejam comprar um barco para facilitar as compras e deslocamentos.
“O ateliê é a concretização de um desejo cultivado por anos. Ele não apenas organiza a produção, mas fortalece o coletivo, promove oficinas e atrai a comunidade, turistas e novos consumidores”, conta Socorro.
Com um espaço adequado para beneficiar a matéria-prima, a expectativa é fortalecer a produção e alcançar mais mulheres artesãs, além de envolver outros trabalhadores da região, como coletores e barqueiros. O ateliê será um verdadeiro centro de cultura e conhecimento, um refúgio de criação para mulheres de fibra — e da fibra. Cercado pelo rio, palmeiras e a beleza marajoara, o espaço promete inspirar novas gerações e manter viva a tradição do artesanato boavistense.
Sobre a organização: Nosso objetivo é promover e efetivar os direitos das mulheres ribeirinhas e indígenas na região da Amazônia, sempre baseados nos princípios da transparência, ética e do desenvolvimento sócio ambiental sustentável e digno.
Apoio Phi: Recursos Humanos, Infraestrutura, Comunicação, Outros
Sobre a organização: A organização valoriza e preservao conhecimento ancestral do artesanato em fibra de jupati, feito por mulheres de Boa Vista, promovendo geração de renda e oportunidades através da comercialização de produtos tradicionais e inovadores, incentivando o manejo sustentável da matéria-prima e destacando a beleza e história da cultura local.
Apoio Phi: Materiais e Equipamentos, Recursos Humanos.
Sobre a organização: Fortalece a agricultura familiar, visando o empoderamento da mulher, através do aumento da produção sustentável por meio do sistema agroflorestal e do reflorestamento das áreas degradadas com árvores nativas e frutíferas.
Apoio Phi: Materiais, equipamentos e recursos humanos.