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A jornada de Dona Lita: inovação e sustentabilidade no semiárido
28 de outubro de 2024 Instituto Phi
Dona Luzia, carinhosamente chamada de Dona Lita, saiu da zona rural de Itatuba (PB) aos 11 anos, sozinha, porque queria estudar. Foi para a casa de uma conhecida da família em Recife (PE) e pagava sua estadia com trabalho. Comeu o “pão que o diabo amassou”, mas conseguiu ir para a faculdade de Pedagogia. Depois de muitos anos atuando como professora – inclusive do município de Itatuba, para onde retornou depois de alguns anos com a missão de manter as crianças na escola – ela se aposentou e voltou às suas raízes na roça. Com uma pequena porção de terra, atualmente, com 66 anos, Dona Lita se tornou um símbolo do compromisso com a agricultura sustentável no semiárido.
Ao acessar tecnologias inovadoras de captação de água para consumo e produção, ela se tornou uma agricultora visionária. Utilizando o reuso de águas cinzas – isto é, águas residuais que já foram utilizadas em chuveiros, lavatórios de banheiros e tanques – Dona Lita criou um pomar repleto de frutas típicas da região e outras espécies adaptadas ao clima árido. Além disso, passou a cultivar hortaliças e ervas medicinais, criando o que ela chama de sua própria “farmácia viva”.
A água para irrigação vem de uma cisterna que capta águas de chuvas e, com uma visão ainda mais sustentável, Dona Lita gera seu próprio gás de cozinha utilizando biogás proveniente das fezes dos animais. Em sua propriedade, ela também se dedica à reprodução de mudas de frutíferas e árvores nativas da caatinga, que faz questão de distribuir para a comunidade local, incentivando o reflorestamento e a preservação ambiental.
Engajada no desenvolvimento sustentável de sua região, Dona Lita transformou parte de sua casa em um banco de sementes comunitário, oferecendo à comunidade a possibilidade de cultivar plantas adaptadas ao semiárido. Atualmente, ela é uma das coordenadoras do Coletivo Multividas, que tem como foco promover práticas agroecológicas coletivas e garantir a segurança alimentar das famílias da região.
“O SPM – Serviço Pastoral dos Migrantes catalogou 60 espécies de plantas em minha propriedade. Através dessas plantas e de nossa rede solidária, estamos resgatando a agricultura livre de agrotóxicos e de sementes geneticamente modificadas. Muitos agricultores tinham perdido suas lavouras por conta da contaminação por transgênicos usados por grandes produtores”, explica.
O Coletivo Multividas é apoiado pelo programa Futuro Bem Maior, realizado pelo Movimento Bem Maior, Instituto Phi e Phomenta, que juntos buscam fortalecer iniciativas comunitárias como a de Dona Lita, promovendo um futuro mais sustentável.